
Bem-vindo a mais um estudo sobre o livro do profeta Daniel! Embora escrito há 2.600 anos, sua mensagem permanece atualíssima. Este livro foi destinado às pessoas de nossos dias, especialmente àquelas que vivem no período do tempo do fim, enquanto aguardamos a volta de Jesus Cristo à Terra.
Estamos no primeiro capítulo do livro, onde abordaremos o tema “Dois Poderes em Conflito”. Neste capítulo, veremos como o conflito entre o bem e o mal se manifesta de maneira extraordinária. O livro do profeta Daniel narra uma história fascinante que começou séculos antes do nascimento do profeta. Vamos explorar juntos essa história cativante!
Dois poderes em conflito: o inicio
Em Gênesis, capítulo 12, encontramos a história do chamado de Abraão, que se tornou pai de Isaque, o filho da promessa. Isaque, por sua vez, foi pai de Jacó, que teve doze filhos. Esses doze filhos deram origem a clãs, famílias e tribos, formando as doze tribos de Israel. Daniel era de uma das tribos, a tribo de Dã, e seu nome, Daniel, significa “Deus é meu juiz”.
O povo de Deus no Antigo Testamento era composto por essas doze tribos, que permaneceram unidas durante os reinados de Saul, Davi e Salomão. Esse período foi marcado por uma coesão entre as tribos. No entanto, após a morte de Salomão, o reino foi dividido. Jeroboão, um dos soldados de Salomão, se tornou líder de dez tribos e estabeleceu sua capital em Samaria. Roboão, filho de Salomão, liderou as duas tribos restantes, mantendo a capital em Jerusalém.
O reino de Israel ficou conhecido como reino do norte e era composto pelas dez tribos que ficaram em Samaria. As duas tribos restantes formaram o reino do sul, conhecido como Judá, de onde vêm os judeus. Essa divisão marcou uma nova fase na história do povo de Deus, com implicações profundas para ambos os reinos.
No ano 722 a.C., o Império Assírio dominava o mundo, e a Assíria derrotou as dez tribos do norte, destruindo-as. Assim, restaram apenas as duas tribos que estavam em Jerusalém, o reino do sul.
Estas duas tribos foram levadas ao cativeiro, evento que ocorreu nos dias do jovem Daniel, cujo livro estamos estudando. O contexto deste livro se desenrola nos dias dos reis Jeoaquim, o rei do povo de Deus, e Nabucodonosor, o rei dos babilônios.
Por que houve a divisão das tribos?
A história mundial nos ensina que sempre houve nações desejando conquistar outras. Houve um tempo em que o Egito dominava o mundo, e provavelmente você conhece bem a história de Moisés e do êxodo, quando o Egito reinava supremo. Contudo, à medida que o poder egípcio declinava, a Assíria emergia como a próxima potência a estabelecer seu domínio global. Durante esse processo de conquista, o povo de Samaria, onde habitavam as dez tribos, foi subjugado pela expansão assíria.
Essas tribos se dividiram após a morte de Salomão, quando seu filho, Roboão, começou a governar. Em vez de buscar conselho com os sábios, ele consultou os jovens, que o aconselharam a aumentar os impostos e tornar a carga dos cidadãos mais pesada. Como resultado, muitos se rebelaram e encontraram em Jeroboão um novo líder. Assim, ocorreu a divisão das tribos.
Dois poderes em conflito: dois reis, dois deuses
No primeiro capítulo de Daniel, o versículo inicial já introduz o rei que será central ao longo do livro: “No ano terceiro do reinado de Jeoaquim, rei de Judá, veio Nabucodonosor, rei da Babilônia, a Jerusalém e a sitiou.” Este verso apresenta dois reis, Jeoaquim e Nabucodonosor, e dois deuses, pois as nações eram representadas por seus deuses. Jeoaquim, representante do povo de Deus, simboliza Elohim, que compreendemos como Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo.
Jerusalém e Babilônia são duas cidades que, do Gênesis ao Apocalipse, estão em constante conflito. Em Gênesis 14:18, Melquisedeque, rei de Salem, trouxe pão e vinho e abençoou Abraão. Melquisedeque era sacerdote do Deus Altíssimo e rei em Salem, e da palavra “Salem” veio “Yerusalém”. Já Babilônia tem sua origem em Gênesis 10:8-10, onde Ninrode, um poderoso caçador, estabeleceu o reino de Babel, tentando construir uma torre para alcançar os céus. A palavra Babilônia deriva de Babel.
No Apocalipse, essas cidades continuam a simbolizar a sede do povo de Deus e a sede do mal. Em Apocalipse 18:2-3, lemos: “Caiu, caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios…” Em Apocalipse 21, vemos a nova Jerusalém: “Vi novo céu e nova terra… e a santa cidade, a nova Jerusalém.”
Estas duas cidades representam dois poderes antagônicos e, quando entram em conflito, o povo de Deus se envolve. No livro de Daniel, vemos o povo de Deus enfrentando desafios mentais, físicos e espirituais que apresentam aspectos semelhantes aos desafios que enfrentamos hoje. Vejamos, então, como foram esses desafios e como esses jovens puderam sair vitoriosos.
Desafios em Babilônia
Em Daniel 1:2 lemos assim: “O Senhor entregou nas mãos dele Jeoaquim, rei de Judá, e alguns dos utensílios da casa de Deus. Ele os levou para a terra de Sinar, para a casa do seu deus, e os pôs na casa do tesouro do seu deus.” Nabucodonosor levou não só os judeus cativos, mas também os utensílios sagrados do templo em Jerusalém para a babilônia, e os utensílios sagrados foram postos no templo de Marduque, o principal deus babilônico.
Os versos 3 e 4 continuam: “Disse o rei a Aspenaz, chefe dos eunucos, que trouxesse alguns dos filhos de Israel, tanto da linhagem real como dos nobres, jovens sem nenhum defeito, de boa aparência, instruídos em toda sabedoria, doutos em ciência, versados no conhecimento e que fossem competentes para assistirem no palácio do rei e lhes ensinasse a cultura e a língua dos caldeus.”
Entre os jovens judeus escravizados estavam Daniel, Ananias, Misael e Azarias. Esses jovens deveriam ser preparados por um tempo, e então veio o primeiro desafio para o povo de Deus na Babilônia. Esse primeiro desafio foi de cunho mental. O texto diz que deveria ser ensinada a esses jovens a cultura e a língua dos caldeus. E lembre-se: caldeus ou babilônios eram o mesmo povo.
1º Desafio
Os babilônios eram politeístas, dividindo seus deuses em duas categorias: deuses pessoais e deuses impessoais. Os deuses pessoais atuavam como protetores individuais, enquanto os deuses impessoais habitavam distantes e inacessíveis, sendo os mais poderosos. Esta complexa cultura politeísta foi ensinada a Daniel e seus amigos. A intenção de Satanás era transformar esses jovens, monoteístas devotos de um único Deus, em adoradores de múltiplos deuses. Portanto, o primeiro desafio que enfrentaram na Babilônia foi de ordem mental, mas eles resistiram firmemente.
2º Desafio
O segundo desafio foi físico. Em Daniel 1:5, lemos: “Determinou-lhes o rei a ração diária das finas iguarias da mesa real e do vinho que ele bebia, e que assim fossem mantidos por três anos, ao cabo dos quais assistiriam diante do rei”. As delícias da mesa do rei foram oferecidas a esses jovens. Mas será que aceitaram essas iguarias? O verso 8 esclarece: “Resolveu Daniel firmemente não se contaminar com as finas iguarias do rei nem com o vinho que ele bebia; então pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não se contaminar”.
Quais foram os motivos que levaram Daniel e seus amigos a rejeitarem a comida da mesa real?
Há pelo menos quatro razões:
- Primeiro, os babilônios, como outras nações pagãs, consumiam carnes impuras, e Levítico capítulo 11 apresenta uma lei divina sobre os animais permitidos para consumo. Daniel e seus amigos recusaram a comida do rei, pois provavelmente incluía carnes proibidas.
- Em segundo lugar, os animais não eram abatidos conforme a lei levítica, que estipula o modo correto de sacrificar os animais. Os babilônios não seguiam essa lei, portanto, Daniel e seus amigos não podiam comer os alimentos oferecidos.
- Terceiro, muitos desses animais eram sacrificados aos deuses babilônicos antes de serem consumidos, uma prática comum na Babilônia. Na cultura deles, comer desses animais era parte da adoração a ídolos.
- Quarto, o consumo de vinho e outras bebidas alcoólicas contrariava os princípios de temperança apresentados no Antigo Testamento. O vinho alcoólico que o rei bebia era proibido por Deus. O vinho, diz Provérbios 20:1 e 23:31-32, e por extensão todas as bebidas alcoólicas, não devem ser ingeridos. A bebida alcoólica danifica a mente, e a única forma de comunicação entre Deus e o ser humano é através da mente. Satanás sabia disso e atacou justamente nesse ponto, tentando danificar suas mentes através de uma alimentação inadequada.
Como Daniel e seus amigos resolveram essa situação? Daniel 1:12 relata: “Peço-te que faças uma experiência com os teus servos por dez dias, e que se nos deem legumes a comer e água a beber”. Como a dieta original de Deus para o ser humano era vegetariana, eles a seguiram. Ao recusarem os alimentos do rei, colocaram suas vidas em risco, mas preferiram morrer em vez de desobedecer a Deus.Parte superior do formulário
3º Desafio
Os dois primeiros desafios foram complicados, mas o último não foi menos difícil. Em Daniel 1:7, o chefe dos eunucos mudou os nomes de Daniel e seus amigos. Daniel passou a ser chamado de Beltessazar. Por que os babilônios mudaram os nomes dos jovens judeus? Bom, essa era uma questão cultural muito importante na época que se estende até os dias de hoje.
Na cultura daquela região, hoje conhecida como “Oriente Médio”, o nome é carregado de significado. Os pais escolhiam o nome do filho com base em seu significado e na expectativa para o caráter e personalidade do filho, frequentemente relacionado ao deus que serviam. Por exemplo, o nome Elias significa “Deus é supremo”. Esse nome refletia a esperança de que o filho, ao longo da vida, permitisse que Deus fosse supremo em sua vida. Se um adulto não desenvolvesse um caráter condizente com o significado do nome, o nome deveria ser mudado.
Portanto, a mudança de nomes dos jovens judeus pelos babilônios era uma tentativa de distanciá-los de sua identidade e fé original, forçando-os a se conformarem à cultura e religião babilônica. Mas, como nos mostram os relatos, Daniel e seus amigos permaneceram fiéis à sua herança e crenças, resistindo a todas as tentativas de assimilação.
Com isso em mente, veja agora os significados dos nomes Daniel, Azarias, Mizael e Ananias:
- Daniel: “Deus é meu juiz”.
- Beltessazar: “Que Bel proteja o rei” (Bel é outro nome para Marduque, a principal divindade babilônica).
- Ananias: “Graça de Deus”.
- Sadraque: “Ordem de Aku” (deus babilônico da lua).
- Mizael: “Quem é como Deus?”.
- Mesaque: “Quem é semelhante a Aku?”.
- Azarias: “Yahweh ajudou”.
- Abedi-Nêgo: “Servo de Nabu” (deus babilônico da sabedoria).
A escolha dos jovens em meio aos desafios
Como você pôde perceber, Daniel e seus amigos foram fortemente pressionados a mudar suas personalidades, a mudar quem eram, a se tornarem algo diferente. Tentaram afastá-los da verdadeira religião e conduzi-los ao falso caminho. Foram envolvidos em um grande conflito. E como responderam a tudo isso? Mantendo-se fiéis a Deus, resistindo a todas as tentações e influências da cultura babilônica. Não se alimentaram das finas iguarias do rei, mas foram testados por dez dias, e a aparência deles ao final desse período era melhor do que a de todos os outros.
Ao final dos três anos, os quatro jovens foram apresentados a Nabucodonosor, que os entrevistou. A conclusão do rei foi a seguinte: “Em toda matéria de sabedoria e de inteligência sobre que o rei lhes fez perguntas, os achou dez vezes mais doutos do que todos os magos e encantadores que havia em todo o seu reino” (Daniel 1:20).
Eles foram testados por dez dias, e para cada dia de fidelidade, Deus aumentou sua sabedoria em uma vez em relação a todos os sábios da Babilônia. Isso foi grandioso! Os sábios da Babilônia eram considerados os homens mais inteligentes da terra, mas Daniel e seus amigos foram declarados dez vezes mais inteligentes do que eles.
Conclusão
Em suma, devido à sua fidelidade a Deus, Daniel continuou até o primeiro ano do reinado de Ciro. E quem foi Ciro? Ciro foi o líder do império medo-persa, o império que derrotou a Babilônia. Daniel pôde testemunhar sobre o Deus verdadeiro para os homens mais poderosos de seu tempo. Em face da morte, ele preferiu ser leal. Que exemplo de fé e coragem! Vale a pena ser fiel a Deus.
No próximo tema desta série, continuaremos analisando a história de Daniel e seus amigos no império babilônico. Até breve!
Veja também o primeiro tema aqui