
Colossenses 1:15 e Apocalipse 3:14 estão, realmente, afirmando que Deus Pai criou Jesus Cristo?
Seria Jesus criatura do Deus Pai? Antitrinitarianos acreditam que sim, mas a Bíblia é inequívoca ao afirmar que Jesus é Deus. Aqui estão alguns textos bíblicos que corroboram essa verdade: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1:1); “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus Unigênito, que está no seio do Pai, é quem O revelou” (João 1:18);
“Respondeu-Lhe Tomé: Senhor meu e Deus meu” (João 20:28); “… mas acerca do Filho: o Teu trono, ó Deus, é para todo o sempre” (Hebreus 1:8); “… na justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo” (2 Pedro 1:1); “Aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus” (Tito 2:13); “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e Ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco)” (Mateus 1:23).
À luz do conteúdo desses versículos, não há razão para pensar que Jesus tenha sido criado pelo Pai. Se isso tivesse ocorrido, Jesus teria sido o primeiro a nascer, o que contradiz os textos anteriormente mencionados, que afirmam ser Ele Deus e, portanto, eterno. Jesus é Deus.
Compreendendo Colossenses 1:15
Colossenses 1:15 declara que Jesus “é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a Criação”. A palavra “primogênito” tem sua origem no grego “protótokos” (protos = “o primeiro a nascer”, “o principal”, “o mais importante”, e tokos = “dado à luz”, “nascido”, “descendência”, “prole” – do verbo tikto = “nascer”, “dar à luz”). A Septuaginta utiliza “protótokos” para traduzir o termo hebraico “o bekôr” – “primogênito”. Assim, “protótokos” significa tanto “primeiro/primogênito” quanto “mais importante/preeminente”.
Assim sendo, a palavra “primogênito” é utilizada na Bíblia com duas nuances: (1) em sentido literal, referindo-se ao primeiro a nascer, como observado em Lucas 2:7, onde Maria “deu à luz o seu filho primogênito”, e Hebreus 11:28, que menciona o cuidado para que o exterminador não tocasse nos primogênitos dos israelitas. E (2) em sentido figurado, denotando o mais importante e preeminente, como em Êxodo 4:22, quando Israel é chamado de “meu filho, meu primogênito”, Salmos 89:27, que se refere a Davi como “meu primogênito, o mais elevado entre os reis da Terra”, e Jeremias 31:9, que destaca Efraim como “meu primogênito”.
Assumindo que Jesus é Deus e, portanto, eterno, o termo “primogênito” em Colossenses 1:15 é utilizado para indicar que Ele é “o mais importante” de toda a Criação, uma vez que é o seu Criador, o Autor primordial da própria Criação. O verso subsequente, Colossenses 1:16, esclarece essa afirmação ao afirmar que “nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a Terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, soberanias, principados ou potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele.”
Ao destacar a posição de Cristo em relação à Criação, Paulo enfatiza, em Colossenses 1:15, que Ele está acima de todas as coisas criadas. Essa supremacia decorre de ser a causa primária da Criação, o seu Originador. Cristo detém todo o poder, como afirmado em Mateus 28:18, “no Céu e na Terra”. Isso se deve ao fato de que, “nEle, habita, corporalmente, toda a plenitude da divindade” (Colossenses 2:9), e “nele, tudo subsiste” (Colossenses 1:17).
Compreendendo Apocalipse 3:14
Apocalipse 3:14 afirma que Jesus é “o princípio da Criação de Deus”. A palavra “princípio” na língua grega original, archê, denota não apenas “início” e “origem”, mas também carrega os significados de “líder” e “primeira causa”. Essa afirmação, se interpretada no sentido de que Jesus foi a primeira criatura, entra em conflito com os textos anteriores que proclamam Sua divindade e eternidade. A lógica é clara: aquele que é eterno não pode ser uma criação.
Ao examinar o termo “princípio” em Apocalipse 3:14, percebemos que sua essência está em designar Jesus como o “originador”, a “causa primária” e o “líder” da Criação de Deus.
Em suma, ao analisarmos os textos de Colossenses 1:15 e Apocalipse 3:14, distanciamo-nos da interpretação que sugere que o Filho foi criado. Pelo contrário, esses versículos afirmam claramente a eternidade de Jesus e Seu papel como o poder criador supremo. Essa compreensão reforça a coesão da mensagem bíblica sobre a natureza divina de Cristo, sublinhando Sua existência atemporal e Sua posição como o autor primordial da Criação.
Referências:
1 DAVIDSON, B. The Analytical Greek Lexicon. Nova York: Harper & Brothers Publishers, s/d, p. 404.
2 BARTELS, K. H , in: COENEN, L. & BROWN, C Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, v. 2. São Paulo: Vida Nova, 2000, p 1851.
3 GINGRICH, F. W. & DANKER, F. W. Léxico do Novo Testamento Grego/Português: São Paulo: Vida Nova, 1993, p. 35.