
Introdução
Amados irmãos em Cristo, é fundamental que tenhamos uma compreensão clara e precisa sobre o dom de línguas bíblico. Infelizmente, muitos crentes sinceros têm interpretado de forma equivocada e criado crenças falsas em relação a esse dom.
Algumas pessoas afirmam que apenas aqueles que falam em “línguas estranhas” foram batizados com o Espírito Santo, o que vai contra o que a Palavra de Deus nos ensina em Efésios 1:13, que nos diz que somos selados pelo Espírito quando cremos em Jesus, não quando falamos em “línguas estranhas”. Essa interpretação errônea cria uma hierarquia entre os cristãos, classificando aqueles que não falam em “línguas estranhas” como de segunda classe.
Alguns chegam a fingir falar em línguas para serem aceitos em suas comunidades religiosas como verdadeiros crentes. No entanto, é importante ressaltar que a evidência de que fomos batizados com o Espírito Santo não está no dom de línguas, mas sim nos frutos do Espírito, como ensina Gálatas 5:22-23.
Além disso, é essencial lembrar que o dom de línguas é apenas um dos dons disponíveis para aqueles que creem. Portanto, é necessário estudar e compreender a Palavra de Deus de maneira adequada para evitar interpretações equivocadas e falsas crenças. Então, vamos lá!
Definição e Propósito do dom de línguas
De acordo com a Bíblia, o dom de línguas refere-se à habilidade de falar em uma língua (idioma) conhecidos e diferentes do falante (esse é o significado do termo grego para “língua”), com o propósito de compartilhar as boas novas da salvação por meio de Cristo.
O mandamento em Mateus 28:19-20 diz: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias até à consumação do século.”
É fundamental, portanto, conhecer a língua falada por cada nação para que o evangelho possa ser ensinado a todos. O dom de línguas não é concedido para exibicionismo nas igrejas. Como afirma 1 Coríntios 12:7, a manifestação do Espírito é dada a cada um para um propósito útil. Portanto, podemos concluir que falar em línguas deve ter um propósito e ser compreensível, tendo o objetivo evangelístico em mente.
O Pentecostes foi um evento muito significativo em que a primeira experiência autêntica de falar em línguas foi registrada. A palavra “Pentecostes” tem origem grega e significa “quinquagésimo (dia)“, referindo-se à celebração judaica que ocorria cinquenta dias após a Páscoa. Essa festividade tinha como objetivo agradecer a Deus pela colheita de trigo e pela entrega da Lei no Monte Sinai.
Foi nesse momento que os discípulos foram agraciados com o dom de línguas, conforme relatado em Atos 2:1-11: “Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados.
E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem. Ora, estavam habitando em Jerusalém judeus, homens piedosos, vindos de todas as nações debaixo do céu. Quando, pois, se fez ouvir aquela voz, afluiu a multidão, que se possuiu de perplexidade, porquanto cada um os ouvia falar na sua própria língua.
Estavam, pois, atônitos e se admiravam, dizendo: Vede! Não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna? Somos partos, medos, elamitas e os naturais da Mesopotâmia, Judéia, Capadócia, Ponto e Ásia, da Frígia, da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia, nas imediações de Cirene, e romanos que aqui residem, tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábios. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?”
O evento do Pentecostes é considerado um momento crucial na história cristã, pois marcou o início da propagação do evangelho para além das fronteiras de Jerusalém. É importante destacar que a experiência do Pentecostes não se tratou de uma gritaria de palavras sem sentido, mas sim de uma demonstração do poder de Deus para comunicar a mensagem do evangelho de maneira clara e compreensível para pessoas de diferentes nacionalidades e idiomas.
No verso 6, lemos que “cada um ouvia falar na sua própria língua” o que cada seguidor de Cristo dizia, e o verso 8 confirma: “E como os ouvimos falar cada um em nossa própria língua materna?” Pela terceira vez, os estrangeiros exclamaram: “Como os ouvimos falar em nossa própria língua sobre as grandezas de Deus?” (verso 11).
Havia no local cerca de 18 nações diferentes e os apóstolos não tinham tempo nem meios para aprender todos aqueles idiomas. No entanto, foi necessário pregar o evangelho naquele lugar, onde havia muitas pessoas reunidas, e Deus não poderia perder aquela oportunidade.
Foi então que o dom de línguas estrangeiras foi concedido aos discípulos para que pudessem comunicar a mensagem de forma compreensível para todas as nacionalidades presentes. É importante ressaltar que não se tratou de uma fala desordenada ou sem sentido, mas sim de uma linguagem clara e compreensível em diferentes idiomas.
Os discípulos foram compreendidos pelos estrangeiros e isso evidenciou o poder de Deus em comunicar a mensagem do evangelho de forma eficaz, ultrapassando barreiras linguísticas e culturais.
Existem alguns aspectos cruciais que precisamos considerar ao analisarmos o dom de línguas bíblico:
- A mensagem de Pedro tinha como foco principal Jesus (Atos 2:22-36).
- O dom de línguas não foi acompanhado por um êxtase sentimental descontrolado. Observe que a mensagem foi compreendida e teve resultados, com 3.000 pessoas sendo batizadas (Atos 2:41).
- Paulo também afirma que as palavras usadas no dom devem pertencer a algum idioma e serem compreensíveis pelos ouvintes para que eles se convertam a Cristo. Não adianta falar em um idioma que a pessoa não conheça, como está escrito em 1 Coríntios 14:6-9: “Agora, irmãos, se eu for ter convosco falando em línguas, que vos aproveitará, se vos não falar por meio de revelação, ou de ciência, ou de profecia, ou de doutrina? […] assim, vós, se com a língua não disserdes palavras compreensíveis, como se entenderá o que dizeis?”
- “Assim vós, se com a língua não disserdes palavras compreensíveis, como se entenderá o que dizeis? Porque estaríeis como se falásseis ao ar” (ler também 1 Coríntios 14: 18, 19, 23).
- O dom de línguas é um sinal para os descrentes, a fim de que ouçam as maravilhas de Deus em seu próprio idioma. Não é um sinal para os crentes, como afirma 1 Coríntios 14:22: “As línguas são um sinal para os incrédulos, não para os crentes, enquanto que a profecia é um sinal para os crentes, não para os incrédulos.”
Assim sendo, o dom de línguas não deve ser usado como um troféu para inflar o ego pessoal. É uma dádiva concedida por Deus para espalhar a mensagem do evangelho para além das fronteiras culturais e linguísticas.
É uma ferramenta poderosa para alcançar aqueles que ainda não conhecem o Salvador, e não deve ser deturpado para fins egoístas ou de autopromoção. Em vez disso, deve ser usado humildemente para servir ao propósito divino de levar a mensagem da salvação a todas as nações e línguas.
E mais, existem algumas regras importantes a serem seguidas no uso do Dom de Línguas. Veja:
- No máximo três pessoas devem falar, de forma sucessiva e organizada, um de cada vez (1 Coríntios 14:27);
- O dom deve ser acompanhado por interpretação, para que todos possam entender a mensagem (1 Coríntios 14:5, 13, 27-28);
- O dom não deve ser usado para confundir ou impressionar as pessoas, mas para comunicar a mensagem de forma clara e compreensível (Atos 2:9-12; 1 Coríntios 14:7-9, 23);
- Cumprir o papel de edificar a igreja estando subordinado ao dom de profecia (1 Coríntios 14:1, 5, 26);
- O dom deve ser usado com amor e humildade, colocando os interesses dos outros acima dos seus próprios (1 Coríntios 13:1-3, 5-7).
Infelizmente, muitos cristãos têm negligenciado essas regras fundamentais para o uso adequado do Dom de Línguas, e isso evidencia que não possuem o verdadeiro dom. Em diversas congregações, é comum ver um verdadeiro tumulto, onde todos falam ao mesmo tempo, sem considerar a ordem e a interpretação.
O resultado disso é um verdadeiro caos, onde a mensagem é perdida em meio ao tumulto e ninguém é edificado. Ao contrário do que muitos pensam, o Espírito Santo não age assim, de forma confusa e desordenada, mas sim com sabedoria e discernimento.
Portanto, é muito importante compreender que, se uma pessoa se declara possuidora do dom de línguas, mas não cumpre com as características bíblicas do dom, ela pode ter qualquer outra coisa, menos o dom de línguas bíblico.
Outros aspectos importantes a serem avaliados sobre o Dom
Além do que já foi apresentado, é importante mencionar também que os verdadeiros portadores do dom de línguas necessariamente se enquadram em outros aspectos, tais como:
- A gritaria não pode fazer parte da manifestação de qualquer dom, conforme Efésios 4:30-31.
- A pessoa tomada pelo Espírito Santo tem paz e domínio próprio, de acordo com Gálatas 5:22-23, ou seja, não cai no chão.
- O dom de línguas não deve provocar desordem na igreja. Em 1 Coríntios 14:33 e 40 é dito que “Deus não é de confusão e sim de ordem e paz.” A obra de Deus sempre se caracteriza pela calma e a dignidade. Havendo barulho, choca os sentidos, como podemos ler em Mateus 6:6 e Gálatas 5:22-23. Lembremos de que Deus não é surdo.
- O Espírito Santo somente é concedido aos que obedecem a Deus, como é mencionado em Atos 5:32. Será que aqueles que se dizem possuidores do Espírito Santo guardam todos os mandamentos de Deus, como podemos ver em Tiago 2:10? A pessoa que conhece a Palavra e desobedece a Deus, mesmo que possa parecer possuir o Espírito Santo, na verdade não o tem. “O que desvia os ouvidos de ouvir a lei, até a sua oração será abominável”, conforme Provérbios 28:9.
- O fato de alguém falar em línguas não é prova de que tenha sido batizado(a) pelo Espírito Santo. A Bíblia apresenta diversas pessoas que receberam o Espírito Santo e, contudo, não falaram em línguas, pois não era necessário. Veja:
- Os samaritanos (Atos 8:17);
- Maria (Lucas 1:35);
- Estevão (Atos 6:5; 7:55);
- Saul, o primeiro rei de Israel (l Samuel 10:10);
- Gideão, juiz de Israel (Juízes 6:34);
- Sansão, outro juiz (Juízes 15:14);
- Zacarias, pai de João Batista (Lucas 1:67);
- Bezalel, em tempos remotos (Êxodo 31:1-3);
- João Batista e sua mãe (Lucas 1:15 e 41);
- Os sete diáconos (Atos 6:1-7);
- Jesus Cristo (Lucas 3:22).
Podemos observar que Jesus nunca manifestou o dom de línguas, no entanto, isso não significa que Ele não tinha o Espírito Santo. A verdade é que não havia uma necessidade evangelística para que Ele fizesse uso desse dom.
Exigir que todos os irmãos falem em línguas é tentar controlar o Espírito Santo, o que vai contra a sua soberania. É Ele quem distribui os dons como deseja: “Todavia, é o mesmo Espírito quem realiza tudo isso, distribuindo a cada um individualmente como lhe apraz” (1 Coríntios 12:11).
Além disso, o dom de línguas não é necessário para a salvação ou para a vida cristã. Há muitos crentes fiéis que não falam em línguas e que têm uma vida plena e abençoada em Cristo. Veja mais alguns aspectos importantes:
- O termo “língua dos anjos” só aparece em 1 Coríntios 13:1, quando Paulo afirma: “Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.” O apóstolo está apenas destacando que mais importante do que falar a língua dos homens e dos anjos, é ter amor. Ele não está afirmando que essa manifestação estranha de língua angélica faça parte de nossa pregação (leia Gênesis 18 e Apocalipse 22:8, 9, onde os próprios anjos falaram idiomas humanos para que pudessem ser compreendidos! Leia também Gênesis 19:15; Lucas 2:8-14; 1:16-18).
- Em Marcos 16:17, é dito: “Estes sinais acompanharão aqueles que creem: em meu nome, expulsarão demônios, falarão novas línguas.” O que significa “falar uma nova língua” na Bíblia? O texto original grego responde. Há duas palavras gregas diferentes referentes ao termo “novas”: neós e kainós.
- Neós é algo novo que não existia antes.
- Kainós é algo novo que já existia.
E qual dessas palavras foi usada por Jesus? No texto original grego de Lucas 16:17, Jesus utilizou a palavra “kainós” para se referir às “novas línguas”. As palavras gregas “neós” e “kainós” são comumente traduzidas como “novo” em português, porém possuem significados distintos.
Enquanto “neós” é empregado para indicar algo novo em termos temporais, ou seja, algo recém-criado ou que começou a existir, “kainós” refere-se a algo novo em termos de qualidade ou experiência.
Por exemplo, se uma pessoa possui um carro ano 2010 e o troca por um modelo 2015, para o novo proprietário o veículo é novo, mas em termos de “experiência”, pois o veículo já existia antes.
Da mesma forma, o dom de línguas mencionado em Marcos 16:17 é considerado “novo” (kainós) para aqueles que aprendem a língua, embora o idioma já fosse falado por um grupo de pessoas antes.
Conclusão
A linguagem falada é um sistema complexo de comunicação que permite aos seres humanos expressarem seus pensamentos e ideias de maneira precisa e eficaz. Por meio dela, é possível transmitir informações e compreender as mensagens de outros indivíduos.
No entanto, as chamadas “línguas estranhas”, usadas em muitos cultos contemporâneos, não possuem qualquer semelhança com as mais de 7.000 línguas e dialetos existentes no mundo. Portanto, tais línguas não têm relevância evangelística e não servem para identificar se uma pessoa é ou não um cristão consagrado, conforme mencionado em Efésios 1:13.
A teoria de que o genuíno dom de línguas se manifesta hoje na forma de línguas estáticas, não faladas atualmente por qualquer povo ou nação, carece de fundamento bíblico.
As várias alusões, na Versão Almeida Revista e Corrigida, a “línguas estranhas” (1 Coríntios 14) não aparecem no texto original grego (o termo “línguas estranhas” foi acrescentado pelo tradutor para tentar “facilitar” a compreensão do texto. Entretanto, dificultou mais ainda, dando apoio à ideia de que o dom de línguas bíblico é algo ininteligível), onde a expressão usada é simplesmente “línguas”.
Portanto, se estou falando com você em francês (uma língua estrangeira) e você não sabe nada de francês, para você, estou falando uma língua estranha, pois não pode ser entendida. Mas isso não quer dizer que o francês seja um idioma que não possa ser compreendido por ninguém. Daí surge a necessidade do intérprete.
Segundo nossos dicionários, interpretar é a “arte de determinar o significado preciso de um texto ou lei”, “fazer entender”. Traduzir é apenas converter cada palavra de seu estado estrangeiro (estranho) para um estado compreensível. Portanto, não existe tradução sem interpretação.
E, não esqueça: o dom de línguas em Atos 2 (Atos 10, 19, 1 Coríntios 12-14) tem sempre um propósito evangelístico.
2 comentários
O Sr tem o dom de falar em língua?as vezes falamos do que não conhecemos…além do dom existe a possibilidade de receber o dom de variedade de línguas.nis podemos falar um outro idioma sem ter estudado este.podemos falar a língua que não é terrena…e interpretar “sabemos o que estamos falando …o mundo espiritual sabe…e também podemos falar línguas que nem os anjos sabem (só você e Deus ).o engenheiro quando sai da universidade teoricamente ele sabe construir um prédio.porem o pedreiro ri de muitas coisas que este neófito profissional acha e diz a situação mesmo ele vai conhecer melhor quando praticar.
Olá, Sr. Sebastião!
Infelizmente, o que o Sr. disse não refuta nada.
O seu comentário apresenta falácias e falta de base bíblica.
1. Experiência pessoal não é critério de verdade – Podemos estudar e interpretar a Bíblia sem precisar vivenciar tudo diretamente.
2. O dom de línguas bíblico se refere a idiomas reais – Atos 2 mostra claramente que as línguas eram compreendidas por estrangeiros.
3. Não há base bíblica para “línguas não terrenas” – 1 Coríntios 14 exige interpretação, o que indica que as línguas tinham significado. A “língua dos anjos” (1 Co 13:1) é uma hipérbole, não uma doutrina.
4. Paulo enfatiza entendimento – Se ninguém entende, não edifica (1 Co 14:9-11). Sem interpretação, deve-se falar em silêncio consigo mesmo e com Deus (1 Co 14:28).
5. A Bíblia é a base, não experiências pessoais – Assim como um engenheiro precisa de conhecimento sólido, a doutrina deve vir da Escritura, não de sensações subjetivas.
Portanto, dom de línguas bíblico é a capacidade sobrenatural de falar idiomas reais sem estudo prévio, e não uma linguagem mística ininteligível.