A Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma Seita?

Faixa de seção
A Igreja Adventista do Sétimo Dia é uma Seita

Introdução

A questão sobre se a Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) é ou não uma seita tem sido levantada por alguns críticos ao longo dos anos. Esta acusação, no entanto, carece de fundamento quando analisamos a história, as crenças fundamentais da IASD e as características que definem uma seita.

Neste artigo, demonstrarei que a Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), está longe de ser uma seita, conforme alguns críticos afirmam, e exploraremos as bases sólidas de suas doutrinas, que estão firmemente ancoradas nas Escrituras.

O que define uma seita?

O termo “seita” tem uma definição específica tanto na sociologia quanto na teologia. Sociologicamente, seita refere-se a um grupo que se separa de uma religião maior, desenvolvendo crenças ou práticas exclusivas. No entanto, em seu uso popular, o termo carrega um estigma de desvio, fanatismo e heresia. Historicamente, as seitas apresentam algumas características comuns:

  1. Exclusivismo radical: Seitas frequentemente afirmam ser o único caminho para a salvação, negando a legitimidade de outras igrejas ou religiões.
  2. Liderança autoritária: Muitas seitas são centradas em um líder carismático cujas palavras são vistas como inquestionáveis, acima de qualquer crítica.
  3. Doutrinas extrabíblicas: Geralmente, seitas introduzem novas revelações ou escrituras que substituem ou complementam a Bíblia, muitas vezes reinterpretando-a drasticamente.
  4. Isolamento social: Seitas tendem a isolar seus membros, restringindo o contato com o mundo exterior ou promovendo a ruptura com a sociedade maior.

À luz desses critérios, muitas seitas surgiram ao longo da história religiosa. Um exemplo clássico seria o grupo dos Testemunhas de Jeová, cuja doutrina é amplamente baseada em interpretações próprias das Escrituras e que, em muitos casos, se afastam da ortodoxia cristã, rejeitando doutrinas centrais como a Trindade.

Outro exemplo seriam os Mórmons (A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias), que aceitam o Livro de Mórmon como escritura sagrada, ao lado da Bíblia, e seguem as revelações de Joseph Smith, seu profeta fundador. Além destes, há grupos como os Cientologistas, cujas crenças são fundadas em revelações de L. Ron Hubbard e incluem um forte controle sobre os membros.

Comparando a IASD com as definições de seitas

Ao contrastarmos esses pontos com a IASD, vemos que o adventismo diverge completamente dessas características:

1. Autoridade Doutrinária: Embora a Igreja Adventista tenha respeito pela obra de Ellen White, sua cofundadora, as doutrinas adventistas não se baseiam nos escritos dela. As crenças fundamentais da IASD são fundamentadas na Bíblia, reconhecida como a única regra de fé e prática.

O livro Nisto Cremos apresenta uma clara sistematização das crenças adventistas, que estão firmemente enraizadas na Palavra de Deus. Além disso, os adventistas não são encorajados a se isolar da sociedade. Pelo contrário, são incentivados a ser parte ativa do mundo, contribuindo para o bem-estar comum por meio de iniciativas educacionais, médicas e de ajuda humanitária.

2. Pluralidade de Vozes: A estrutura de liderança da IASD é descentralizada, com a igreja global sendo administrada por comitês e conselhos representativos. Diferente de muitas seitas, não há um líder carismático ou uma figura singular que controle a igreja.

3. Aceitação da Tradição Cristã: O adventismo aceita doutrinas centrais do cristianismo, como a Trindade, a divindade de Cristo, a expiação e a justificação pela fé. As doutrinas adventistas, longe de serem inovadoras ou revelações exclusivas, são interpretações bíblicas que têm eco em tradições cristãs mais amplas.

As doutrinas adventistas: baseadas nas Escrituras

A IASD é uma denominação cristã protestante que adota as doutrinas fundamentais do cristianismo, compartilhando com as igrejas reformadas as mesmas crenças centrais que têm sido defendidas ao longo dos séculos.

De acordo com o livro Nisto Cremos, publicado pela igreja, as doutrinas adventistas são extraídas diretamente das Escrituras. Vamos analisar as seis doutrinas que formam a espinha dorsal da fé adventista:

* Você pode conferir na íntegra essas doutrinas, bem como as 28 crenças fundamentais repartidas entre as 6 doutrinas, adquirindo o livro Nisto Cremos aqui.

  1. A Doutrina de Deus: A IASD crê em um Deus Trino — Pai, Filho e Espírito Santo — em plena harmonia com o ensino cristão ortodoxo. Esta doutrina reflete passagens como Mateus 28:19 e 2 Coríntios 13:14.
  2. A Doutrina do Ser Humano: A crença adventista sobre o ser humano enfatiza que fomos criados à imagem de Deus (Gênesis 1:27), mas caímos em pecado, necessitando da redenção através de Cristo. O adventismo vê o ser humano como um ser integral, composto de corpo, mente e espírito, refletindo a visão bíblica do ser humano como uma unidade.
  3. A Doutrina da Salvação: A salvação é vista como um dom gratuito de Deus, alcançada somente pela graça, mediante a fé em Jesus Cristo (Efésios 2:8-9). Os adventistas acreditam que a fé genuína resulta em uma transformação de vida e em uma obediência amorosa aos mandamentos de Deus, conforme Tiago 2:17. No entanto, a obediência aos mandamentos de Deus, incluindo a guarda do sábado, não é vista como um meio de salvação, mas como uma resposta à graça de Deus.
  4. A Doutrina da Igreja: A IASD acredita que a Igreja é o corpo de Cristo (Efésios 1:22-23), composta por todos os que aceitam Jesus como seu Salvador. A igreja tem a missão de proclamar o evangelho e preparar o mundo para a segunda vinda de Cristo.
  5. A Doutrina da Vida Cristã: O adventismo enfatiza a importância de viver de acordo com os princípios bíblicos em todos os aspectos da vida. Isso inclui saúde, ética e uma vida equilibrada. A observância do sábado como o dia de descanso (Êxodo 20:8-11) faz parte desse estilo de vida cristão, seguindo o exemplo bíblico.
  6. A Doutrina dos Últimos Eventos: Uma das marcas distintivas da IASD é sua escatologia. Os adventistas acreditam na segunda vinda iminente de Cristo (Apocalipse 1:7) e pregam o cumprimento das profecias bíblicas em relação aos eventos finais, incluindo o juízo e a ressurreição dos mortos.

Em todas essas doutrinas, percebe-se uma profunda fidelidade às Escrituras. Ellen G. White, embora tenha tido um papel importante na organização e desenvolvimento inicial da igreja, não é a fonte dessas doutrinas. Seus escritos são considerados inspirados, mas subjugados à autoridade da Bíblia, e ela mesma declarou que “a Bíblia, e somente a Bíblia, deve ser nossa regra de fé” (O Grande Conflito, p. 595).

Refutando as acusações de seita

Vários argumentos são frequentemente levantados pelos críticos para tentar classificar a IASD como uma seita. Aqui, mencionarei três dos principais argumentos e apresentarei respostas fundamentadas:

O Papel de Ellen G. White

Um dos principais argumentos dos críticos é o papel de Ellen G. White dentro da IASD. Embora seja reconhecida como uma profetisa e cofundadora da igreja, seus escritos não são vistos como uma fonte de doutrina, mas como uma luz menor que aponta para a luz maior — a Bíblia.

A Igreja Adventista defende que a Bíblia é a autoridade final em todas as questões de fé e prática. Ellen White nunca reivindicou para si uma posição superior às Escrituras e sempre apontou para o estudo da Palavra de Deus como essencial para o crescimento espiritual.

Os escritos de Ellen G. White são utilizados para orientação, conselhos e exortações, mas eles jamais substituem ou acrescentam às Escrituras, diferentemente do que ocorre em seitas que introduzem novas escrituras ou revelações extrabíblicas.

A guarda do Sábado

Outro ponto de crítica é a observância do sábado, que alguns consideram uma forma de legalismo. No entanto, essa prática está claramente embasada na lei de Deus, que ordena a santificação do sétimo dia como um dia de descanso (Êxodo 20:8-11). A guarda do sábado não é uma tentativa de justificar-se pelas obras, mas sim uma expressão de fidelidade a um princípio bíblico estabelecido desde a criação (Gênesis 2:2-3). E não, os Dez Mandamentos não foram abolidos.

O Santuário Celestial

Uma das crenças centrais da teologia adventista é a respeito do Santuário Celestial, que é frequentemente mal interpretado por críticos. Esta crença está baseada em uma interpretação cuidadosa do livro de Hebreus e dos textos proféticos de Daniel.

A IASD ensina que, após sua ascensão, Cristo iniciou um ministério sacerdotal no santuário celestial, conforme descrito em Hebreus 8 e 9. Esse santuário é entendido como o verdadeiro tabernáculo, do qual o santuário terrestre do Antigo Testamento era um modelo. Em Hebreus 9:11-12, lemos que Cristo, como sumo sacerdote, entrou no santuário celestial para realizar a expiação final pelos pecados da humanidade.

Este conceito é parte da visão bíblica do grande conflito entre o bem e o mal e está enraizado nas profecias de Daniel, especialmente em Daniel 8:14, que fala sobre a purificação do santuário. O entendimento adventista é que, assim como o santuário terrestre tinha uma função de expiação e purificação anual, Cristo agora intercede no santuário celestial, preparando o mundo para o fim dos tempos.

Diferentemente das acusações de que a crença no santuário celestial sugere salvação pelas obras, os adventistas compreendem que a obra de Cristo no santuário é mediadora e faz parte essencial do plano de redenção. Diariamente, dependemos da graça e do perdão concedidos pelo sacrifício redentor e perfeito de Cristo na cruz. Para os adventistas, as boas obras não são um meio de alcançar a salvação, mas uma evidência da fé genuína, como ensinado em Tiago 2:26: “A fé sem obras é morta”.

Comparação com outras denominações

Uma observação interessante é que muitas das críticas direcionadas à IASD partem de denominações que adotam práticas não fundamentadas na Bíblia, como a guarda do domingo, cuja substituição do sábado ocorreu apenas séculos após o período apostólico, por influências culturais e políticas do Império Romano e da Igreja Católica e não por mandamento bíblico explícito.

Além disso, crenças amplamente difundidas, como a imortalidade da alma — que afirma que a alma humana continua consciente após a morte — não têm uma base nas Escrituras, sendo influenciadas por filosofias gregas e interpretadas de maneira contrária à visão bíblica da morte como um estado de sono inconsciente (Eclesiastes 9:5, 6; João 11:11-14).

Isso me leva a refletir: Por que rotular a IASD como seita? Estaria essa acusação relacionada ao receio de que fiéis de outras denominações possam ser atraídos pela clareza e coerência bíblica do adventismo? Ou seria uma tentativa de desqualificar uma igreja que desafia tradições populares, mas que carecem de base sólida nas Escrituras?

Assim, em vez de se envolver em um diálogo teológico honesto, rotular o adventismo como seita pode ser uma defesa simplista — uma forma de evitar o confronto com a necessidade de reavaliação de certas crenças e práticas que, embora populares, não encontram respaldo bíblico.

Conclusão

Ao analisar a Igreja Adventista do Sétimo Dia sob o prisma de suas doutrinas, história e práticas, fica claro que ela não se enquadra na definição de seita. Suas crenças são fundamentadas inteiramente na Bíblia e seguem os preceitos do cristianismo histórico.

Diferentemente de movimentos sectários, a IASD não introduz novas escrituras, não exige exclusividade para a salvação e não é centrada em figuras autoritárias. Suas doutrinas, longe de serem inovadoras ou extrabíblicas, são uma restauração de princípios bíblicos esquecidos ou negligenciados ao longo da história.

Portanto, ao invés de rotular injustamente a IASD como uma seita, seria mais construtivo reconhecê-la como uma denominação cristã comprometida com a verdade bíblica e com a missão de preparar o mundo para a segunda vinda de Cristo. O uso leviano do termo “seita” reflete mais uma incompreensão ou até mesmo uma defesa de tradições não bíblicas do que uma crítica teológica legítima.


Leia também:

1. A imortalidade da alma: crença pagã?

2. A imortalidade da alma: crença pagã? – Parte 2

3. Os Dez Mandamentos foram abolidos ou ainda são válidos?

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Amós Bailiot

Sou um estudante de História na Universidade Estácio de Sá e um entusiasta em Teologia. Acredito que o conhecimento é valioso apenas quando compartilhado. É por isso que estou aqui, disposto a compartilhar minhas reflexões teológicas. Junte-se a mim nessa jornada!

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Amós Bailiot

Graduando em História pela Universidade Estácio de Sá e estudioso de Teologia, defende a premissa de que o conhecimento se torna verdadeiramente valioso quando compartilhado. Junte-se a mim nessa jornada!

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