Predestinação ou Escolha? O Que a Bíblia Ensina

Faixa de seção
Predestinação ou Escolha

Introdução

A crença na predestinação, como apresentada por correntes teológicas como o calvinismo, sugere que Deus escolheu, antes mesmo da fundação do mundo, quem será salvo e quem será condenado. Para muitos, essa doutrina, chamada de “dupla predestinação”, oferece uma explicação clara e direta para a salvação e a perdição, porém, ao nos aprofundarmos nas Escrituras, essa visão parece entrar em conflito com ensinamentos centrais da fé cristã.

Se Deus já determinou o destino final de cada ser humano, qual seria o propósito de nossas escolhas? E mais importante, o que isso nos diz sobre a justiça e o amor divinos?

O Evangelho e a Responsabilidade Humana

Uma das grandes questões que surgem quando se defende a ideia de que Deus predestinou alguns para a salvação e outros para a perdição é: se tudo já está decidido, qual o sentido da pregação do Evangelho? Por que Jesus daria aos seus discípulos a Grande Comissão descrita em Mateus 28:19-20: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”? Se a salvação já está predestinada, para que serviria o esforço missionário? O ato de pregar o Evangelho se tornaria desnecessário.

A Bíblia nos mostra outra perspectiva. Marcos 16:16 ensina: “Quem crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado”. Note como a crença, um ato de escolha pessoal, está diretamente vinculada à salvação. Se Deus já tivesse determinado quem creria e quem não creria, qual seria a relevância desse convite universal à fé? Nesse contexto, a predestinação pareceria diluir o valor do livre-arbítrio humano, transformando as escolhas de cada indivíduo em meras formalidades de um plano previamente escrito por um Ser cara de pau. 

A Justiça Divina e a Predestinação

Outro ponto de tensão com a doutrina calvinista da predestinação é a questão da justiça de Deus. Se alguns já foram destinados ao inferno, que justiça há nisso? Deus seria justo ao condenar alguém sem lhe dar a chance real de escolher o caminho da vida? O próprio Deus, em Sua Palavra, expressa Seu desejo pela salvação de todos.

Em 2 Pedro 3:9, lemos: “O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento.” Se Deus não quer que ninguém pereça, como então Ele predestinaria alguns à condenação sem uma chance de arrependimento? Isso o tornaria um mentiroso, pois predestina uns para a perdição e depois diz que Seu desejo é que todos se salvem.

Essa visão distorcida da justiça divina também contradiz o que vemos em Ezequiel 33:11: “Dize-lhes: Vivo eu, diz o Senhor Deus, que não tenho prazer na morte do ímpio, mas em que o ímpio se converta do seu caminho, e viva.” Como conciliar um Deus que deseja a salvação do pecador com a ideia de que Ele teria predeterminado alguns a se perderem?

A justiça divina, conforme revelada nas Escrituras, implica que Deus, sendo justo, não age arbitrariamente. Ele oferece a cada indivíduo a oportunidade de escolher entre a vida e a morte, como descrito em Deuteronômio 30:19: “Eis que proponho, hoje, a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua descendência.”

Se o homem não tivesse a capacidade de escolha, por que Deus lhe daria uma instrução tão clara para escolher o caminho da vida?

O Livre-arbítrio e a Responsabilidade Pessoal

A Bíblia está repleta de exemplos de seres humanos que exerceram seu livre-arbítrio para aceitar ou rejeitar a oferta divina de salvação. Judas Iscariotes, por exemplo, foi um homem que traiu a Jesus, mas será que ele foi predestinado a fazê-lo? Jesus sabia que Judas o trairia, como vemos nas profecias e nas próprias palavras de Cristo (João 13:21-27), mas isso significa que Judas não teve escolha? De forma alguma.

O conhecimento prévio de Deus sobre as escolhas humanas não equivale à determinação dessas escolhas. Judas não foi forçado a trair Jesus; ele fez isso por sua própria vontade, e Deus já sabia que ele tomaria essa decisão. Mas a presciência divina não é causativa. Saber que algo vai acontecer não significa determinar que isso aconteça.

Essa distinção é fundamental para compreendermos o caráter de Deus. Se a presciência divina fosse equivalente à predestinação, então Deus não seria apenas onisciente, mas também controlador das escolhas humanas. Isso colocaria em dúvida o conceito de responsabilidade moral.

Se Deus já determinou todas as ações humanas, então as pessoas seriam meros instrumentos de Sua vontade, sem liberdade para tomar decisões reais. Se fosse assim, Deus não seria amor, mas um monstro cruel, pois poderia simplesmente predestinar todos à salvação para que ninguém sofresse.

Mas Deus não é assim! Dou glórias a Deus por Ele não ser esse ser que a doutrina da predestinação descreve.

O Amor de Deus e o Convite à Salvação

A doutrina bíblica do livre-arbítrio revela um Deus que, por amor, oferece salvação a todos, mas que respeita a liberdade de cada um para aceitá-la ou rejeitá-la. João 3:16, talvez o versículo mais conhecido das Escrituras, declara: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” Esse convite é universal: todo aquele que nele crê. Não há uma limitação imposta por uma predestinação arbitrária. O amor de Deus é estendido a todos, sem exceção.

Se a predestinação calvinista fosse verdadeira, como poderíamos reconciliar isso com a natureza de Deus descrita em 1 Timóteo 2:4, que afirma que Ele “deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade”? Por que Ele desejaria que todos fossem salvos se já tivesse predestinado alguns à perdição? Esse desejo universal de salvação revela o caráter amoroso de Deus, que deseja que cada pessoa tenha a oportunidade de escolher a vida eterna.

Conclusão

Ao analisarmos a questão da predestinação à luz das Escrituras, torna-se evidente que Deus, em Sua soberania, decidiu oferecer o dom do livre-arbítrio ao ser humano. O conhecimento divino do futuro não anula a responsabilidade pessoal de cada um. Deus sabe o que iremos escolher, mas não força nossas decisões. Somos nós que, diante da oferta de vida e salvação, decidimos qual caminho seguir.

Se a doutrina da predestinação como descrita pelo calvinismo fosse correta, toda a narrativa bíblica que exalta o amor de Deus, Sua justiça e o chamado ao arrependimento perderia o sentido. Afinal, qual seria o propósito do convite à salvação se alguns já estão predestinados à perdição?

Qual o sentido das palavras de Jesus: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Marcos 16:15), se alguns já estão fatalmente condenados? A beleza do plano divino está exatamente na liberdade que temos de escolher a vida em Cristo.

Assim, o verdadeiro ensinamento bíblico é este: Deus nos convida a participar de Sua salvação, e esse convite é estendido a todos. Ele sabe quem aceitará, mas não força ninguém a fazê-lo. A escolha está em nossas mãos, e o convite é claro: “Escolhe, pois, a vida”.

Que Deus o abençoe grandemente!


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Amós Bailiot

Sou um estudante de História na Universidade Estácio de Sá e um entusiasta em Teologia. Acredito que o conhecimento é valioso apenas quando compartilhado. É por isso que estou aqui, disposto a compartilhar minhas reflexões teológicas. Junte-se a mim nessa jornada!

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Amós Bailiot

Graduando em História pela Universidade Estácio de Sá e estudioso de Teologia, defende a premissa de que o conhecimento se torna verdadeiramente valioso quando compartilhado. Junte-se a mim nessa jornada!

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