
Quem foi Jó? De onde veio esse homem cuja história atravessa os séculos como símbolo de fé, paciência e integridade? A Bíblia o apresenta como um homem íntegro, reto, temente a Deus e que se desviava do mal. Mas a narrativa bíblica nos dá pistas sobre sua origem e o tempo em que viveu? Essa é a investigação que nos propomos a fazer aqui, à luz das Escrituras e das referências geográficas e genealógicas que a Bíblia nos fornece.
Logo na abertura do livro que leva seu nome, encontramos a seguinte afirmação: “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal” (Jó 1:1).
Essa simples frase carrega muitas informações. Jó era da terra de Uz, mas onde ficava essa terra? O que sabemos sobre ela?
A Terra de Uz e sua Localização
A primeira pista geográfica aparece em Lamentações 4:21, onde lemos: “Regozija-te e alegra-te, ó filha de Edom, que habitas na terra de Uz…”
Esse versículo sugere que Uz era uma região localizada dentro dos limites de Edom — território habitado pelos descendentes de Esaú, irmão de Jacó. Edom ficava ao sul de Israel, numa área que, em um mapa atual, corresponderia ao sul da Jordânia e ao norte da Arábia Saudita.
Portanto, é plausível situar a terra de Uz nessa região ao leste do mar Morto, nas cercanias do monte Seir, local associado aos edomitas. Essa localização, aliás, é coerente com outras referências bíblicas e nos oferece uma visão mais clara sobre o cenário onde se desenvolve a história de Jó.
A origem do nome “Uz”
A Bíblia apresenta dois personagens com o nome Uz, e ambos podem estar relacionados à origem da terra:
- Uz, filho de Naor, irmão de Abraão — mencionado em Gênesis 22:21.
- Uz, descendente de Esaú, registrado em Gênesis 36:28 como filho de Disã, neto de Seir.
Embora ambas as possibilidades sejam biblicamente válidas, a segunda parece mais forte, dada a conexão direta com Edom, já estabelecida pelo texto de Lamentações.
Esaú, também conhecido como Edom nome atribuído após o episódio da troca da primogenitura por um prato de lentilhas avermelhadas, deu origem ao povo edomita. Portanto, é provável que a terra de Uz estivesse dentro de seu território e que o nome da região derivasse de um de seus descendentes.
Um edomita justo?
Se Jó era mesmo descendente de Esaú, trata-se de um exemplo notável de alguém que, mesmo não pertencendo diretamente à linhagem de Israel, destacou-se como um servo fiel do Deus Altíssimo.
E isso nos ensina algo poderoso: a fidelidade a Deus não está condicionada à linhagem familiar, mas à decisão pessoal. Ainda que Esaú não tenha sido um exemplo de devoção e temor a Deus, Jó, seu possível descendente, é descrito como íntegro, reto e temente ao Senhor. Isso rompe com qualquer ideia de fatalismo espiritual ou determinismo hereditário. A Bíblia está repleta de exemplos semelhantes, mostrando que um novo caminho pode ser trilhado por aqueles que escolhem servir a Deus com sinceridade.
Quando viveu Jó? Evidências sobre seu tempo
Embora o livro de Jó não apresente uma data precisa, vários elementos internos nos ajudam a situar sua história em um período bastante remoto. Eis os principais indícios:
1. Estilo de vida patriarcal
Jó é descrito como patriarca, chefe de sua casa, oferecendo sacrifícios pelos filhos — um costume típico do período anterior à Lei Mosaica, semelhante ao que vemos na vida de Abraão.
2. Ausência da Lei de Moisés
O livro não menciona a Lei, o templo ou o sacerdócio levítico, o que sugere que os eventos ocorreram antes do Êxodo, em um tempo em que a fé era vivida por meio de revelações diretas de Deus, sem mediações institucionais.
3. Longevidade
Jó viveu mais 140 anos após os acontecimentos do livro (Jó 42:16), o que o coloca em uma época de grandes longevidades, como nos tempos patriarcais descritos em Gênesis.
4. Localização fora de Israel
O fato de Jó ter vivido em Uz — possivelmente em Edom — indica que sua fé floresceu fora do contexto israelita, o que reforça a tese de que ele viveu antes da formação de Israel como nação, especialmente considerando que a tradição rabínica atribui a Moisés a autoria do livro de Jó.
A sabedoria de Jó e a companhia de seus amigos
A história de Jó não gira apenas em torno de sua dor e perseverança. Seus amigos também ocupam um papel de destaque na narrativa. O primeiro deles, Elifaz, é apresentado como “temanita”, ou seja, natural de Temã, cidade importante — possivelmente a capital — do território de Edom.
Temã é citada em diversos textos proféticos, como:
- Jeremias 49:7
- Ezequiel 25:13
- Obadias, verso 9
- Habacuque 3:3
Essas passagens reforçam o prestígio e a relevância de Temã dentro do contexto edomita. Elifaz, portanto, não era apenas um conhecido de Jó; possivelmente era seu amigo mais próximo, oriundo de uma das regiões mais proeminentes de sua terra natal.
Conclusão
A história de Jó começa com uma afirmação clara e poderosa: ele era um homem justo, temente a Deus e que se afastava do mal. E mais: ele vivia na terra de Uz, região associada a Edom, um povo tradicionalmente visto em oposição a Israel.
E aqui está o ponto fundamental: Deus não está limitado às fronteiras étnicas ou geográficas. Jó, um provável edomita, foi escolhido como exemplo de fidelidade e perseverança. A lição que emerge das páginas iniciais desse livro é clara: não importa onde você nasceu, nem quem foram seus antepassados — o que importa é o coração diante de Deus.
Jó nos ensina que é possível ser fiel em qualquer lugar e em qualquer tempo. Ele mostra que, mesmo vivendo em uma terra e em um contexto que não favoreciam a piedade, é possível permanecer íntegro, temendo a Deus e se afastando do mal. Sua vida é um testemunho de que Deus honra aqueles que O buscam de coração.
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