Creatio ex nihilo: resposta às objeções mórmons sobre a criação

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Resposta às objeções mórmons sobre a criação

Nota: Este artigo apresenta uma síntese adaptada da pesquisa do Dr. William Lane Craig, renomado filósofo e teólogo. Para uma análise completa dos argumentos bíblicos, históricos e científicos, acesse o estudo completo clicando neste link.

Introdução

Há uma polêmica ferrenha em torno da creatio ex nihilo — a ideia de que Deus criou o universo a partir do nada —, a qual envolve questões fundamentais sobre a natureza de Deus, a origem do cosmos e a relação entre fé e ciência. Enquanto o cristianismo tradicional defende a visão de que tudo foi criado por Deus a partir do nada, o mormonismo propõe uma perspectiva distinta: a de que Deus organizou uma matéria eterna preexistente, sem criá-la do zero.

Como diz o ditado, “mentira tem perna curta”. Portanto, a seguir, analisaremos qual dessas visões encontra respaldo nas Escrituras, na história da teologia e nas descobertas científicas modernas, demonstrando que a interpretação mórmon carece de fundamentação verdadeira.

A visão Mórmon e seus fundamentos

Alguns autores mórmons, como Stephen E. Robinson e B.H. Roberts, argumentam que a Bíblia não ensina explicitamente a creatio ex nihilo. Eles interpretam termos como bârâ’ (“criar”) em Gênesis 1 como indicativos de um processo de organização, e não de criação absoluta. Para eles, versículos como Gênesis 1:2 (“a terra era sem forma e vazia”) sugerem a existência de um caos primordial que Deus moldou, em vez de algo trazido à existência a partir do nada.

Esse argumento pode até parecer plausível, mas o texto bíblico não sustenta a ideia de que a matéria sempre existiu. Gênesis 1:1–2 apenas afirma que, na semana da criação, a Terra já existia, mas não fornece base para concluir que ela seja eterna ou que Deus meramente organizou materiais preexistentes. O relato bíblico indica que, em algum momento, Deus criou o universo e tudo o que nele há, incluindo a Terra. Depois disso — não sabemos quanto tempo depois —, durante a semana da criação, Ele deu forma ao planeta e trouxe à existência a vida. Essa é a conclusão mais segura que podemos extrair de Gênesis 1:1–2.

Além disso, pensadores mórmons como John Widtsoe e Orson Pratt defendem que a creatio ex nihilo é um conceito filosófico, não bíblico, e que a eternidade da matéria seria mais coerente dentro de uma cosmologia racional. No entanto, essa visão enfrenta sérios desafios, tanto em sua exegese bíblica quanto em sua compatibilidade com as descobertas científicas modernas.

O que a Bíblia realmente ensina?

Uma análise mais detalhada dos textos bíblicos revela que a creatio ex nihilo não é uma invenção tardia da teologia cristã, mas uma ideia presente tanto no Antigo quanto no Novo Testamento:

  • Gênesis 1:1 não menciona matérias-primas preexistentes. A expressão “no princípio” (berêshît) e a fórmula “céus e terra” (que abrange toda a realidade criada) apontam para um começo absoluto, sem qualquer sugestão de materiais anteriores.
  • Isaías 44:24 declara: “Eu sou o Senhor, que faço todas as coisas, que sozinho estendi os céus e sozinho espalhei a terra”. A ausência de qualquer referência a elementos coeternos reforça a singularidade do ato criador divino.
  • Romanos 4:17 descreve Deus como Aquele que “chama à existência as coisas que não existem”, uma afirmação explícita da criação a partir do nada.
  • Hebreus 11:3 afirma que “o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que o visível veio a existir a partir do invisível”, excluindo totalmente a noção “sem noção” de uma matéria eterna.

Além disso, textos judaicos antigos, como 2 Macabeus 7:28 (que, embora não seja considerado inspirado pelos protestantes, assim como todos os demais livros apócrifos, serve como fonte histórica relevante) e os Manuscritos do Mar Morto, também atestam a crença em um Deus que criou todas as coisas sem depender de elementos pré-existentes. Isso demonstra que a creatio ex nihilo não era uma inovação cristã, mas uma convicção já consolidada no pensamento judaico anterior.

Os Problemas da Perspectiva Mórmon

A interpretação mórmon enfrenta dificuldades críticas que são impossíveis de levar a sério. Observe:

  1. Falácia Etimológica: Apoiar-se no sentido original de bârâ’ (“cortar, moldar”) ignora que o significado das palavras evolui no contexto bíblico. O termo é usado exclusivamente para ações divinas e nunca aparece com um objeto direto que indique matérias-primas.
  2. Inconsistência Teológica: Se a matéria é eterna, Deus não seria verdadeiramente soberano sobre a criação, pois estaria limitado por algo fora de Si mesmo, e o texto de João 1:3 estaria mentindo ao afirmar que TODAS as coisas foram criadas por meio de Jesus — o que, obviamente, inclui a matéria.
  3. Conflito com a Ciência Moderna: A teoria do Big Bang e as leis da termodinâmica mostram que o universo teve um começo definido, não sendo eterno. Quero deixar claro que não apoio a visão evolucionista da criação. Além disso, a teoria do Big Bang em si não contraria a visão criacionista do universo – como muitos pensam – mas isso é assunto para outro artigo.

A Ciência e a Creatio ex Nihilo

Descobertas cosmológicas do século XX, como a expansão do universo e a radiação cósmica de fundo, fornecem evidências de que o cosmos teve um início definido. O físico P.C.W. Davies observa que o Big Bang não foi apenas uma “explosão” no espaço, mas a origem do próprio espaço-tempo — algo que ecoa a noção de criação a partir do nada.

Além disso, a segunda lei da termodinâmica (que indica que o universo caminha para uma “morte térmica”) sugere que, se o cosmos fosse infinitamente antigo, já teria esgotado sua energia útil. O fato de ainda haver processos dinâmicos em curso reforça a ideia de um começo finito. Entretanto, para os teóricos da conspiração, nada disso tem valor.

Uma doutrina coerente e biblicamente fundamentada

Enquanto a visão mórmon da criação enfrenta desafios exegéticos e científicos, a creatio ex nihilo se alinha tanto com o testemunho bíblico quanto com as descobertas da cosmologia moderna. Longe de ser uma invenção filosófica, ela surge como a explicação mais coerente para a origem do universo – uma que preserva a soberania divina, a contingência da criação e a harmonia entre fé e razão.

Para os cristãos, essa doutrina vai além de ser apenas uma resposta a debates teológicos; é um convite a contemplar a grandeza de um Deus que, sem qualquer necessidade, trouxe à existência tudo o que há simplesmente pelo poder de Sua palavra. Isso é verdadeiramente maravilhoso, pois Ele não precisava de nada, mas mesmo assim nos quis criar para nos ter como filhos e compartilhar conosco a existência.


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Amós Bailiot

Sou um estudante de História na Universidade Estácio de Sá e um entusiasta em Teologia. Acredito que o conhecimento é valioso apenas quando compartilhado. É por isso que estou aqui, disposto a compartilhar minhas reflexões teológicas. Junte-se a mim nessa jornada!

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Amós Bailiot

Graduando em História pela Universidade Estácio de Sá e estudioso de Teologia, defende a premissa de que o conhecimento se torna verdadeiramente valioso quando compartilhado. Junte-se a mim nessa jornada!

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