
A crença cristã na inerrância das Escrituras é fundamentada na convicção de que a Bíblia é a Palavra infalível de Deus, inspirada pelo Espírito Santo e, portanto, totalmente verdadeira e coerente em todos os seus ensinamentos. Os cristãos creem que Deus, sendo onisciente e perfeito em todo o seu ser, não poderia inspirar um livro que contivesse erros ou contradições.
No entanto, existem textos que aparentam discordar dessa ideia. Um exemplo disso são Êxodo 33:11 e João 1:18, que parecem estar em aberta contradição. Veja:
- Êxodo 33:11: “O Senhor falava com Moisés face a face, como quem fala com seu amigo. Depois Moisés voltava ao acampamento; mas Josué, filho de Num, que lhe servia como auxiliar, não se afastava da tenda.”
- Joao 1:18: “Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito, que está no seio do Pai, é quem o revelou.
E agora? Será que temos realmente uma contradição aqui? De modo nenhum! Veja:
Êxodo 31:11
Ao examinar mais atentamente o contexto da aparente contradição entre Êxodo 33:11 e João 1:18, é importante lembrar do princípio cristãos de que a Bíblia deve interpretar a si mesma. Isso significa que, ao estudar as Escrituras, é necessário considerar todo o contexto bíblico, bem como outras passagens que possam ajudar a esclarecer ou contextualizar um determinado trecho.
Ao aplicarmos esse princípio ao texto em questão, percebemos que o capítulo 33 de Êxodo descreve minuciosamente as circunstâncias em que Deus se comunicava com Moisés. No verso 9, é mencionado que Deus descia em uma coluna de nuvem e se colocava à porta da tenda para falar com Moisés.
Embora Moisés estivesse face a face com Deus, a expressão não significa que ele estava literalmente vendo o rosto divino — pois havia uma nuvem sobrenatural entre os dois —, mas sim que estava em uma relação direta de comunicação com o Ser Supremo.
Isso se deve ao fato de que, como seres humanos pecadores, não podemos ver a face de Deus e permanecer vivos. Essa ideia é reforçada nos versos 20 a 23 do mesmo capítulo 33 de Êxodo, onde Deus disse a Moisés que ele não poderia ver Sua face, mas que poderia estar em um lugar próximo a Ele.
Deus, então, colocou Moisés na fenda de uma rocha e o cobriu com sua mão para que ele não pudesse vê-Lo diretamente. Em seguida, quando Deus retirou a mão, Moisés só pôde vê-Lo pelas costas, já que Sua face não poderia ser vista.
João 1:18
O verso 18 do capítulo 1 de João, longe de apresentar uma contradição, na verdade confirma a afirmação divina encontrada nos versos 20 a 23 de Êxodo 33 de que ninguém pode ver a face de Deus em sua forma divina e continuar vivo.
No entanto, para que pudéssemos conhecer melhor quem é Deus, Cristo veio a este mundo na forma humana, a divindade revestida da humanidade, para que o homem pudesse suportar a imagem do Deus invisível. Ele revelou a natureza e os atributos de Deus. Isso permitiu que o homem pudesse suportar a imagem do Deus invisível e que Cristo pudesse revelar a natureza e os atributos de Deus aos seres humanos.
Ao contrário do que alguns possam pensar, a encarnação de Cristo não traz contradições à Bíblia. Pelo contrário, ela confirma que Deus é tão perfeito em seu ser que foi capaz de se manifestar em forma humana sem perder sua divindade e sem deixar de ser completamente verdadeiro em todos os seus ensinamentos.
Como disse o apóstolo Paulo em Colossenses 1:15-16: “Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias, poderes ou autoridades; todas as coisas foram criadas por ele e para ele.”
Dessa forma, podemos entender que a aparente contradição entre os versos de Êxodo e João não é uma contradição real, mas sim uma questão de compreender o contexto e a linguagem utilizada na Bíblia. A harmonia bíblica não é desfeita pela encarnação de Cristo, mas antes é reafirmada por ela, mostrando a habilidade e perfeição divinas em se manifestar em forma humana e revelar sua natureza e atributos aos seres humanos.