O Sábado foi transgredido por Jesus? Veja o que a Bíblia diz

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O Sábado foi transgredido por Jesus
Imagem: Freepik

Hoje, vamos analisar um questionamento comum feito pelos nossos irmãos evangélicos e católicos sobre a guarda do sábado. Alguns afirmam: “Jesus já cumpriu toda a lei; Ele guardou todos os mandamentos, de forma que não precisamos mais guardá-los.” Esse é um argumento frequente.

No entanto, em um diálogo sobre o sábado, muitos desses mesmos irmãos dizem: “Mas Jesus transgrediu o sábado.” Aqui surge uma contradição que precisa ser esclarecida. Se Jesus guardou todos os mandamentos, então Ele não transgrediu o sábado. Portanto, você que pensa dessa forma deve decidir qual linha de raciocínio seguir: ou Jesus guardou todos os mandamentos, ou Ele transgrediu o sábado. Não é possível afirmar ambas as coisas ao mesmo tempo.

Continue lendo e você entenderá o porquê.

Jesus não transgrediu nem guardou o sábado para que não precisássemos guardá-lo

O que significa isso? Significa que Jesus não transgrediu os mandamentos e tampouco guardou-os para que nós, automaticamente, não precisássemos mais guardá-los. Ao contrário, Ele nos deu o exemplo de como devemos obedecer à lei, inclusive o mandamento do sábado. Jesus guardou a lei de maneira perfeita, demonstrando como fazer o mesmo.

Portanto, existem dois equívocos comuns: o primeiro, dizer que Jesus guardou os mandamentos para que nós não precisemos mais guardá-los; o segundo, dizer que Jesus transgrediu o sábado. Ambos são erros. Afirmar que Jesus transgrediu é, na prática, chamá-lo de mentiroso, pois Ele mesmo afirmou que não veio para destruir a lei ou os profetas, mas sim para cumpri-los (Mateus 5:17).

A argumentação teológica e o contexto da lei

Você, que conhece teologia, pode estar pensando: “Quando Jesus fala sobre a lei e os profetas, Ele não está falando especificamente dos Dez Mandamentos, mas da Torá, os cinco primeiros livros, e dos profetas, ou seja, do restante dos livros do Antigo Testamento.” Isso é parcialmente correto, mas lembre-se de que os Dez Mandamentos estão, de fato, incluídos na Torá. Êxodo 20, que contém os Dez Mandamentos, faz parte da Torá.

Portanto, quando Jesus disse que não veio para destruir a lei, mas para cumpri-la, Ele estava se referindo a todo o conjunto da lei, o que inclui os Dez Mandamentos.

A acusação de que Jesus transgrediu o sábado

Vamos analisar os textos bíblicos que abordam a acusação de que Jesus teria transgredido o sábado. Um dos textos mais citados é João 5:9. Nesse versículo, vemos o relato de uma cura que Jesus realizou no sábado: “Imediatamente, o homem se viu curado e, tomando o leito, pôs-se a andar. E aquele dia era sábado.”

O contexto é a cura de um paralítico que estava há 38 anos à beira do tanque de Betesda. Jesus chega no sábado, olha para aquele homem e diz: “Levanta-te, toma o teu leito e anda.” O homem, curado, obedece e leva seu leito consigo. Os judeus, ao vê-lo carregando a cama no sábado, repreendem-no: “É sábado, não é lícito você levar sua cama.” O homem, por sua vez, responde: “Aquele que me curou disse: ‘Toma tua cama e anda.” (João 5:10).

Agora, a pergunta que deve ser feita é: Jesus realmente transgrediu ou não o sábado? É claro que não! Mas por que não? Veja: quem foi que acusou Jesus de ter transgredido o sábado? Foi Deus? Não, foram os fariseus. Portanto, a acusação era infundada e mentirosa, e você entenderá o motivo. E veja só: hoje em dia, há muitas pessoas que se comportam exatamente como os fariseus da época.

Jesus curando no sábado e a hipocrisia dos fariseus

Outro episódio que reforça essa acusação é encontrado em Mateus 12:9-13, onde Jesus curou um homem com a mão ressequida. Quando Jesus entrou na sinagoga no sábado, os fariseus perguntaram: “É lícito curar no sábado?” Com essa pergunta, eles queriam acusá-lo de transgressão.

Jesus, no entanto, respondeu de maneira sábia: “Qual de vocês, tendo uma ovelha, se ela cair numa cova no sábado, não a levantará? Quanto mais vale um homem do que uma ovelha? Portanto, é lícito fazer o bem no sábado.” Ele, então, curou o homem, restaurando sua mão. Logo depois, os fariseus saíram para formar um conselho com o objetivo de matar Jesus.

Note a hipocrisia: para os fariseus, curar no sábado era pecado, mas planejar a morte de Jesus não era. Isso mostra o quanto suas acusações estavam distorcidas. Eles estavam acusando Jesus de uma transgressão que Ele não cometeu, enquanto, na realidade, eram eles que estavam transgredindo a lei ao tramar a morte de alguém. É exatamente assim que os hipócritas agem: acusam os outros de pecados que, no fundo, eles mesmos cometem.

Jesus transgrediu o sábado ou as regras dos fariseus?

Jesus não transgrediu o mandamento de Deus sobre o sábado. O que Ele rejeitou foram as regras criadas pelos fariseus, que, ao longo dos séculos, adicionaram ao mandamento original. Essa é a chave para entender a questão.

Se Jesus tivesse realmente transgredido o sábado, Ele teria pecado, e, se Ele tivesse pecado, não poderia ser o nosso Salvador. Sabemos que Jesus era sem pecado, portanto, Ele não quebrou a lei de Deus, mas sim as tradições humanas que distorciam o verdadeiro propósito do sábado.

As regras adicionais

Para entender melhor a questão, precisamos analisar o contexto histórico. Após o cativeiro babilônico, os judeus retornaram à sua terra e, sob a liderança de Esdras e Neemias, fizeram uma reforma espiritual. O objetivo era garantir que não caíssem novamente no cativeiro, evitando a desobediência aos mandamentos de Deus.

Foi nesse contexto que começaram a criar regras para garantir que obedeceriam aos mandamentos. Dentro desse movimento surgiram várias seitas, como os fariseus, saduceus e essênios, que se dedicavam à obediência extrema da lei. Eles criaram uma série de regras adicionais ao mandamento do sábado, que Deus nunca ordenou.

Essas novas regras incluíam proibições como cuspir no chão (pois poderia ser considerado como regar a terra), pisar na grama (para evitar arrancar folhas, o que seria visto como “podar” a grama), e colher ou comer frutas diretamente do campo no sábado, entre muitas outras.

Um exemplo disso está em Mateus 12:1-2, quando os discípulos de Jesus, com fome, colheram espigas de trigo e comeram no sábado. Os fariseus imediatamente os acusaram, dizendo: “Eis que os Teus discípulos fazem o que não é lícito fazer no sábado.”

Mas na cabeça de quem os discípulos estavam pecando? Dos fariseus, porque essas proibições não estão em Êxodo 20. Isso eram acréscimos que eles inventaram. Eles diziam: “Você não pode colher uma fruta e comer no sábado”, ou ainda, “não pode arrancar um cabelo branco da cabeça, porque isso é colheita.”

Enfim, eram regras “sem pé nem cabeça” como essas que Jesus fez questão de não seguir, porque não faziam parte dos mandamentos de Deus.

Jesus restaurou o verdadeiro sentido do sábado

O que fica claro é que Jesus não aboliu o sábado. Ao contrário, Ele restaurou o seu verdadeiro significado. O sábado não foi dado como um dia de fardos, mas como um dia de descanso e adoração. Jesus nos mostrou que é lícito fazer o bem no sábado, assim como Ele fez. Ele curava, pregava e ajudava os necessitados nesse dia, cumprindo o propósito original de Deus.

Lucas 4:16 nos diz que Jesus tinha o costume de ir à sinagoga no sábado. Ele seguia o mandamento de não trabalhar, mas utilizava o dia para adoração e boas ações. O verdadeiro sentido do sábado é dedicar esse dia inteiramente a Deus, deixando de lado as preocupações do dia a dia.

O que não fazer no sábado?

Agora que já sabemos o que podemos e devemos fazer no sábado, é importante entender o que não devemos fazer. A resposta está em Isaías 58:13-14, que diz: “Se desviares o teu pé de profanar o sábado, de fazer a tua vontade no Meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso, santo dia do Senhor, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua vontade, nem falando as tuas próprias palavras, então te deleitarás no Senhor.”

Neemias 13:15-17 também nos dá outro exemplo do que não devemos fazer no sábado: “Naqueles dias, vi em Judá os que pisavam lagares ao sábado e traziam trigo que carregavam sobre jumentos; como também vinho, uvas e figos e toda sorte de cargas, que traziam a Jerusalém no dia de sábado; e protestei contra eles por venderem mantimentos neste dia. Também habitavam em Jerusalém tírios que traziam peixes e toda sorte de mercadorias, que no sábado vendiam aos filhos de Judá e em Jerusalém. Contendi com os nobres de Judá e lhes disse: Que mal é este que fazeis, profanando o dia de sábado?”

Isso significa que o sábado não é o dia para fazermos nossa própria vontade, nem tratar dos nossos negócios ou falar de coisas mundanas. É um dia separado para Deus, para a adoração, o descanso e o serviço ao próximo. Ficou claro para você?

O sábado: um dia deleitoso

Talvez você esteja pensando: “Então o sábado é o dia em que tudo é proibido?” Na verdade, é justamente o contrário! O sábado é o dia do “sim”. Um dia abençoado em que somos convidados a pausar nossas atividades rotineiras e mergulhar em um tempo especial de conexão com Deus. É o momento perfeito para dizer: “Hoje, vou dedicar cada instante ao Senhor. Vou fazer o bem, vou estar em comunhão, vou louvar, orar, servir e ajudar os outros.”

E você pode se perguntar: “Mas não posso fazer essas coisas nos outros dias também?” Claro que sim, e deve! No entanto, durante a semana, estamos imersos nas responsabilidades da vida: trabalho, compromissos, preocupações. O sábado, porém, é uma oportunidade única de interromper essas atividades e entregar esse dia completamente às coisas espirituais, sem distrações. O sábado nos convida a repousar tanto física quanto espiritualmente, para que possamos focar totalmente no nosso relacionamento com Deus e no bem ao próximo.

Conclusão

Que a graça de Deus toque o seu coração, e que ao compreender o verdadeiro significado do sábado, você possa refletir profundamente e tomar uma decisão: “A partir de hoje, quero guardar o sábado como Jesus o guardou. Quero vivê-lo em sua plenitude, como um dia de descanso, adoração e serviço.”

Assim, você experimentará a paz e a alegria que vêm ao viver segundo o exemplo de Cristo, em harmonia com o que Deus estabeleceu desde a criação. Que o sábado seja, para você, um deleite espiritual e uma bênção transformadora.


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Amós Bailiot

Sou um estudante de História na Universidade Estácio de Sá e um entusiasta em Teologia. Acredito que o conhecimento é valioso apenas quando compartilhado. É por isso que estou aqui, disposto a compartilhar minhas reflexões teológicas. Junte-se a mim nessa jornada!

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Amós Bailiot

Graduando em História pela Universidade Estácio de Sá e estudioso de Teologia, defende a premissa de que o conhecimento se torna verdadeiramente valioso quando compartilhado. Junte-se a mim nessa jornada!

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