
Introdução
Jesus realmente pregou para espíritos em prisão? Uma passagem bíblica que tem causado confusão para muitas pessoas devido à sua interpretação difícil está em I Pedro 3:18-20: “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito, no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais, noutro tempo, foram desobedientes quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito pessoas, foram salvos, através da água…”
À primeira vista, parece que a passagem sugere que Jesus, em algum momento de seu ministério, pregou para os espíritos de pessoas já falecidas. Esse entendimento parece ser reforçado pelo que está escrito no capítulo seguinte, que diz: “…pois, para este fim, foi o evangelho pregado também a mortos, para que, mesmo julgados na carne segundo os homens, vivam no espírito segundo Deus” (1 Pedro 4:6).
Agora surge a questão: Jesus realmente pregou para os mortos? É possível que, mesmo após a morte, uma pessoa possa se arrepender ao ouvir a pregação de Cristo? Ou essa interpretação se aplicava apenas àquela situação específica? Além disso, existe outra maneira de interpretar essa passagem tão complexa? Certamente!
Podemos começar mencionando duas das interpretações mais comuns entre os teólogos, desde a época dos pais da Igreja (a patrística), passando pelos teólogos da Idade Média, da Reforma Protestante, até alguns teólogos modernos.
1ª interpretação
A primeira interpretação sustenta que, após morrer na cruz, Jesus não foi imediatamente para o Pai. Em vez disso, ele desceu ao inferno — ou a um lugar intermediário, como alguns preferem chamar — onde se encontravam as almas de todos que haviam morrido desde Adão até o momento da crucificação. Nesse lugar além-túmulo, essas almas tiveram a oportunidade de ouvir a pregação de Cristo, que havia descido para anunciar-lhes o evangelho.
2ª interpretação
Já a segunda interpretação, defendida por muitos teólogos, sugere que o evento descrito pelo apóstolo Pedro aconteceu antes da morte de Jesus, mais especificamente, em algum momento durante o período do dilúvio. Segundo essa visão, foi nessa ocasião que Cristo, em espírito, pregou aos antediluvianos.
Portanto, a descrição de Pedro não se referiria ao período entre a crucificação e a ressurreição, mas sim à pregação de Jesus para aquelas pessoas que viveram antes do dilúvio, chamando-as ao arrependimento antes que o juízo de Deus viesse através das águas.
E agora? Qual interpretação está correta à luz da Bíblia? Para descobrirmos, precisamos ir além de uma leitura superficial e realizar uma análise cuidadosa do texto de I Pedro 3:18 – 20. Assim, veremos se o sentido da expressão “espíritos em prisão” significa “almas de pessoas que já morreram” ou não. (Para postagens sobre a imortalidade da alma, clique aqui e aqui).
O significado do termo “espírito” na Bíblia
Em primeiro lugar, se Pedro estivesse ensinando que Jesus pregou para “espíritos desencarnados”, seria a única vez em toda a Bíblia que tal ato é mencionado. Não há sequer uma alusão a esse respeito em qualquer outra parte das Sagradas Escrituras.
E, você sabe, é perigoso e complicado sustentar uma doutrina cristã com base em uma única passagem. Precisamos ter em mente que os textos mais difíceis devem ser interpretados à luz dos mais fáceis, e das Escrituras como um todo — a Bíblia não pode se contradizer.
Em segundo lugar, é essencial analisarmos a passagem dentro de seu contexto, levando em conta as expressões idiomáticas presentes no texto. Embora muitos interpretem a frase “foi e pregou aos espíritos em prisão” como uma referência a fantasmas ou seres espirituais de outro mundo, a Bíblia não confere esse significado a nenhuma passagem onde a palavra “espírito” aparece.
Sempre que a Bíblia menciona “espírito” no sentido humano, ela está se referindo a pessoas vivas ou ao fôlego de vida presente em cada ser humano.
Vejamos alguns exemplos:
- Romanos 8:16,17: “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados.”
Perceba que somos chamados de “espíritos” pelo apóstolo, quando ele afirma que o próprio Espírito (o Espírito Santo) testifica com o nosso espírito, ou seja, com cada um de nós. Isso não tem nenhuma relação com uma suposta alma desencarnada vivendo em algum lugar por aí.
- I Coríntios 16:17, 18: “Alegro-me com a vinda de Estéfanas, e de Fortunato, e de Acaico; porque estes supriram o que da vossa parte faltava. Porque trouxeram refrigério ao meu espírito e ao vosso. Reconhecei, pois, a homens como estes.”
Nesse texto, o apóstolo Paulo fala sobre a visita de seus colegas de ministério que o deixou muito alegre. Ele expressa essa felicidade usando a expressão “trouxeram refrigério ao meu espírito e ao vosso”, referindo-se a si mesmo e a outros que também ficaram contentes com a visita. Mais uma vez o termo “espírito” é utilizado como sinônimo de pessoa viva.
- Hebreus 12:22, 23: “Mas tendes chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembleia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados…”
Veja, o autor de Hebreus não está falando de fantasminhas vivendo numa realidade imaterial. Ele está falando da Igreja de Cristo, que é composta por pessoas físicas e que, pela fé, essa Igreja chega ao Deus vivo.
Como vimos nos versos anteriores, o termo “espírito” é sempre usado como sinônimo de pessoa viva. Portanto, a expressão “espíritos dos justos”, significa “pessoas justas vivas”. Veja mais uma passagem:
- Gálatas 6:18: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito. Amém!”
Está claro que o apóstolo usa mais uma vez o termo “espírito” como sinônimo de “pessoa viva“, não é? Vejamos agora um último exemplo:
- 1 João 4:1-3: “Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora. Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo.”
O que o apóstolo João quis transmitir ao usar a expressão “não deis crédito a qualquer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus”? Será que ele estava referindo-se a espíritos desencarnados? Claramente, não.
Assim como Paulo, João usou o termo “espírito” como sinônimo de “pessoa viva”. Ele alertou os cristãos sobre a presença de muitos falsos profetas (espíritos) dentro da igreja, os quais ensinavam doutrinas diabólicas. Além disso, forneceu-lhes um método para distinguir um falso mestre de um verdadeiro: “toda pessoa que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus”.
Embora haja diversos outros textos que poderiam ser mencionados, acredito que os cinco que abordamos sejam suficientes para entendermos o significado bíblico do termo “espírito”.
Portanto, ao ler I Pedro 3:18-20, podemos afirmar com segurança que a expressão “espíritos em prisão” se refere a “pessoas vivas”. Vale destacar que, até o momento, não encontramos nenhuma menção no texto bíblico que se refira a “almas desencarnadas”.
Para ilustrar melhor esse ponto, podemos imaginar uma apresentação começando com o uso da linguagem bíblica ou expressões idiomáticas típicas da época em que a Bíblia foi escrita. Por exemplo, saudar o público dizendo: “Olá a todos os espíritos! Sejam bem-vindos!” soaria estranho e confuso nos dias de hoje. No entanto, essa saudação não estaria se referindo a espíritos em uma sessão mediúnica, mas sim às pessoas presentes no evento.
Dessa forma, não há base bíblica para afirmar que a expressão “pregou aos espíritos em prisão” se refere a “espíritos desencarnados”.
Entendendo o significado de “espíritos cativos”
Depois de tudo o que vimos sobre “espíritos” na Bíblia, é possível que você ainda tenha dúvidas. Talvez esteja relutante em aceitar que a expressão “pregou aos espíritos em prisão”, de I Pedro 3:18, signifique que Cristo pregou para pessoas que estavam aprisionadas no pecado, e não para almas desencarnadas. Se for seu caso, há mais algumas passagens que podem ajudar a esclarecer a questão:
- Lucas 4:18, 19: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.”
Ao ler esses versos, podemos notar que Cristo descreve seu ministério fazendo referência a Isaías 61:1-2. No entanto, é intrigante observar que em nenhum dos quatro evangelhos há um verso sequer que mencione Jesus pregando em prisões ou visitando alguém nessa condição.
Isso nos leva a entender que a expressão “libertar os cativos e oprimidos” se refere aos cativos do pecado. O próximo texto a ser apresentado reforçará ainda mais essa ideia.
Veja:
- Lucas 13:16: “Por que motivo não se devia livrar deste cativeiro, em dia de sábado, esta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há dezoito anos?”
Uma das muitas razões que levaram os fariseus a odiar Jesus foi que ele realizou curas aos sábados, o que, na mente dos fariseus, era uma clara violação da lei. No entanto, nesse caso da mulher endemoniada, Jesus respondeu a acusação de estar violando o sábado com uma pergunta esmagadora: “Por que motivo não se devia livrar deste cativeiro, em dia de sábado, esta filha de Abraão, a quem Satanás trazia presa há dezoito anos?”
Note que Jesus relacionou o problema de saúde daquela mulher com uma ação demoníaca, na qual ela estava aprisionada há dezoito anos e que convinha a ele libertá-la daquele cativeiro. O termo “cativeiro” simbolizava a situação degradante em que ela estava, nada mais que isso. Afinal, era costume de Jesus usar a expressão “cativos que foram libertos” para aqueles que ele havia curado ou libertado do reino das trevas. Para não restar dúvidas, veremos agora mais uma passagem:
- Gálatas 4:8: “Antes, quando vocês não conheciam a Deus, eram escravos daqueles que, por natureza, não são deuses.”
Quando não conhecíamos a Jesus, estávamos aprisionados no pecado e éramos escravos de falsos deuses. Felizmente, Cristo nos encontrou, salvou-nos e libertou-nos. Usando a expressão bíblica, podemos dizer que éramos “espíritos em prisão”, mas agora somos livres em Cristo.
Portanto, ao ler I Pedro 3:18-20, devemos entender que Jesus foi pregar para pessoas vivas que foram aprisionadas pelo pecado, doença ou falta de visão espiritual. E, simbolicamente, a conversão é colocada como a libertação dessa prisão. É importante perceber que interpretar a expressão “espíritos em prisão” como “almas desencarnadas presas no além” é um erro de interpretação e não tem base bíblica.
O significado de I Pedro 3:18 — 20
E então, o que você acha? Será que Cristo realmente foi pregar para espíritos desencarnados em prisão? Talvez você ainda prefira acreditar nisso. Às vezes, mudar de crença leva um bom tempo. Ademais, minha intenção consiste apenas em apresentar a interpretação que mais se harmoniza com a revelação bíblica, usando unicamente a Bíblia.
Dito isso, veja agora o que diz I Pedro 1:10 – 11: “Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam.”
Interessante, não é? Segundo o apóstolo Pedro, os profetas do passado só foram capazes de predizer os sofrimentos de Cristo e as glórias futuras, graças ao Espírito do próprio Cristo que neles estava. Isso nos diz muita coisa sobre como foi que Cristo pregou para os “espíritos em prisão”.
Outro texto interessante está em Tiago 2:26: “Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta.” Em conformidade com o restante da Bíblia, Tiago nos ensina que uma pessoa só pode existir enquanto o corpo estiver unido ao espírito – que neste contexto significa o fôlego de vida.
Por ocasião da morte, a pessoa deixa de existir de verdade; não há uma alma que sobrevive depois da morte. Sendo assim, como Cristo poderia ter pregado para alguém depois de haver morrido? Seria impossível, uma vez que quem morreu deixou de existir.
Para que os mortos voltem a se comunicar, é necessário que voltem a existir primeiro, e isso só é possível por meio da ressurreição. Essa regra também se aplicou a Jesus, que, embora fosse Deus, decidiu se encarnar para viver e morrer como um ser humano, e ao ressuscitar, ressuscitou do mesmo modo que os salvos um dia ressuscitarão: com um corpo glorificado.
Não há vida após a morte
Talvez você esteja se perguntando: “Como assim? Que história é essa de que quem morreu deixou de existir? E a vida após a morte?” É isso mesmo! Quem morreu deixou de existir, não há vida nenhum após a morte. A Bíblia nos ensina, através do relato da criação do ser humano em Gênesis, que Deus uniu o corpo feito do pó da terra com o folego de vida proveniente dEle, e então “o homem passou a ser alma vivente” (Gn 2:7).
Note que o homem passou a “ser”, e não a “ter” uma alma. Quando morremos a alma também morre, porque não “temos” uma alma, “somos” uma alma (Ez 18:4). Existe um abismo de diferença entre os verbos “ter” e “ser”. E a morte nada mais é do que o processo inverso da criação da vida, como diz Eclesiastes 12:7: “…e o pó [o corpo] volta à terra, como o era, e o espírito [o fôlego de vida] volta a Deus, que o deu.”
Quer mais exemplos de que após a morte não é possível haver consciência? Então, veja Eclesiastes 9:5, 6, que diz: “Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, porque a sua memória jaz no esquecimento. Amor, ódio e inveja para eles já pereceram; para sempre não têm eles parte em coisa alguma do que se faz debaixo do sol.”
Esses versos deixam bem claro que os mortos não sabem de nada. Sendo assim, como podem ter discernimento cognitivo para entender uma suposta pregação passada a eles depois que morreram, a fim de que possam ser libertos do cativeiro? Isso não faz o menor sentido.
O profeta Isaías também esclareceu muito bem essa questão ao dizer que “a sepultura não te pode louvar, nem a morte glorificar-te; não esperam em tua fidelidade os que descem à cova. Os vivos, somente os vivos, esses te louvam como hoje eu o faço; o pai fará notória aos filhos a tua fidelidade” (Is. 38:18-19).
Esses versos são fantásticos, porque nos levam a questionar novamente: como é que aqueles mortos desde Adão até a cruz poderiam estar num lugar intermediário aguardando a morte de Cristo para então irem para a Glória? Isaías deixou bem claro que os mortos “não esperam em tua fidelidade” (na fidelidade divina), e continua dizendo: “Os vivos, somente os vivos, esses te louvam como hoje eu o faço…”
Se apenas os vivos são capazes de louvar a Deus, como então Jesus poderia ter descido ao mundo das almas mortas, que necessitariam de raciocínio, conhecimento, capacidade de amor e ódio para aceitar ou rejeitar a pregação de Cristo? Isso contradiz tudo o que foi visto nos versos anteriores, especialmente em Eclesiastes 9:5-6, onde é afirmado que “os mortos não sabem de nada”.
Noé e os “espíritos em prisão”
Então, como é que podemos entender essa passagem de I Pedro 3:18 – 20? A continuação do texto nos dá a resposta: “no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão, os quais, noutro tempo, foram desobedientes quando a longanimidade de Deus aguardava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca, na qual poucos, a saber, oito pessoas, foram salvos, através da água…” (vs. 19, 20).
Percebeu? Pedro está falando que Cristo pregou para os antediluvianos através de Noé. Vimos em I Pedro 1:10-11 que os profetas do Antigo Testamento puderam “dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam”, porque o espírito de Cristo estava neles. Da mesma maneira, Noé pregou aos antediluvianos porque o espírito de Cristo estava nele.
Sendo assim, é correto dizer que Cristo pregou àquelas pessoas que viveram antes do dilúvio e que são chamados de “presos espirituais”. Isso porque, como vimos anteriormente, quando a Bíblia usa o termo “espírito” no sentido humano, está se referindo a uma pessoa viva. Toda pessoa que ainda não aceitou a Cristo como seu Salvador está aprisionada no pecado, e biblicamente falando, é um “espírito aprisionado”.
Em Efésios 2:1, é dito que Deus deu vida às pessoas, mesmo quando elas estavam mortas em seus delitos e pecados. É importante ressaltar que a morte aqui se refere ao estado espiritual em que as pessoas se encontram antes de encontrar a graça de Deus. Mesmo que o corpo esteja vivo e funcionando corretamente, espiritualmente a pessoa está morta em seus delitos e pecados.
É nessa condição de morte espiritual que a mensagem da pregação chega até a pessoa. É importante esclarecer que quando a Bíblia fala que Cristo pregou a espíritos em prisão que noutro tempo foram rebeldes, não se refere a espíritos desencarnados, mas sim a pessoas que estão mortas em seus pecados.
Nesse sentido, a mensagem da salvação é dirigida a pessoas que precisam ser vivificadas pelo Espírito de Deus. Nada tem a ver com alguém que realmente está morto e sepultado.
Uma outra passagem muito esclarecedora sobre isso está em Mateus 8:22: “Replicou-lhe, porém, Jesus: Segue-me e deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos.” Mas do que Cristo está falando aqui? De cadáveres sepultando cadáveres? Ou de almas desencarnadas “sepultando” outras almas desencarnadas?
Obviamente, nenhuma das duas coisas. Jesus está se referindo a pessoas vivas que ele comparativamente chamou simbolicamente de “mortos”, porque ainda não haviam aceitado a salvação.
Conclusão
Em suma, a única forma coerente de harmonizar a passagem difícil de Pedro com o restante do ensinamento bíblico é aceitar que Cristo, por meio de Noé, pregou aos “espíritos em prisão” – as pessoas vivas que estavam mortas em seus pecados.
Pedro, ao falar disso, fez uma pregação para instruir aqueles que sofrem por seguir Jesus a não terem medo das ameaças e angústias, mas santificar a Deus sabendo que através deles, Cristo está alcançando outras pessoas.
Embora possam ser rejeitados, eles não devem se afligir, mas confiar que Deus trará resultados, como no passado, quando as pessoas não aceitaram a pregação de Noé até o dilúvio vir.
Portanto, não há necessidade de recorrer à pregação de Cristo após a morte no suposto estado intermediário da alma, pois não há apoio bíblico para essa ideia. Quem ensina assim, ou desconhece a concepção bíblica sobre a natureza humana, ou tem más intenções.