
Introdução
Será que é possível sermos genuinamente bons se Deus não existir? À primeira vista, a resposta parece tão clara que levantar essa questão pode soar provocativo ou desnecessário. Afinal, para nós, cristãos, Deus é a fonte suprema de nossa moralidade e da força que nos orienta a viver de maneira mais justa. Ele nos oferece a estrutura necessária para agir de forma ética, de um modo que dificilmente alcançaríamos sozinhos.
No entanto, seria um equívoco dizer que aqueles que não compartilham da fé em Deus não podem ser moralmente bons. Muitas vezes, pessoas sem crenças religiosas demonstram condutas éticas que nos desafiam, fazendo-nos questionar nossas próprias atitudes.
A questão, portanto, não é se os descrentes podem ser bons, mas sim: o que acontece com a bondade se Deus não existir? Esse questionamento é muito mais profundo, pois nos leva a investigar a natureza dos valores morais em si. Será que os princípios que orientam nossa conduta são meros acordos sociais, como as leis de trânsito, ou preferências pessoais, como nosso gosto por determinados alimentos? Ou existe algo que dá a esses valores uma solidez que vai além da subjetividade humana?
O que motiva a ética?
Se enxergarmos a moralidade como uma simples construção humana, surgem dúvidas importantes: o que realmente nos incentivaria a agir de forma ética, especialmente quando isso contraria nossos próprios interesses? Há algo que nos faça sentir verdadeiramente responsáveis por nossas escolhas e ações, sem uma referência transcendente que sustente essas decisões?
Essas perguntas nos desafiam a reconsiderar o que realmente entendemos por “bem” e “moralidade” e, mais do que isso, nos fazem refletir sobre o alicerce dessas noções. Existe, de fato, um ponto de apoio para esses conceitos sem a existência de Deus? Ou será que a moralidade, sem Ele, se dilui em convenções temporárias e sem força obrigatória?
Vamos refletir sobre a seguinte questão: se Deus existe, os valores morais são objetivos e universais? E, na ausência de Deus, o que acontece com nossa noção de moralidade? A questão da existência de Deus não é apenas uma pergunta sobre fé, mas também sobre a base moral da humanidade. Se Ele existe, os princípios éticos estão fundamentados em algo maior do que nós; se Ele não existe, a moralidade corre o risco de se dissolver em subjetividade.
Deus como base para a moralidade objetiva
A hipótese de que Deus existe oferece uma estrutura sólida e duradoura para os valores morais. Isso significa que certas coisas são inerentemente certas ou erradas, independentemente da época ou da cultura em que nos encontramos. Um exemplo notório é o Holocausto: mesmo que os nazistas acreditassem na retidão de seus atos, e ainda que tivessem triunfado e reescrito a história, o massacre sistemático de milhões de judeus e outros grupos minoritários continuaria sendo moralmente repulsivo. Esse julgamento transcende opiniões ou consensos temporários.
Agora, considere a hipótese oposta: a inexistência de Deus. Se Deus não existir, os valores morais perdem seu fundamento objetivo. Sem uma referência transcendente, nossas noções de certo e errado tornam-se construções humanas, frutos de convenções sociais ou de preferências pessoais.
Mas isso gera um problema: por que deveríamos seguir uma moral que, em essência, é mutável e relativa? Quem determinaria o que é correto? Se não há algo maior que a humanidade para julgar nossos atos, por que os seres humanos teriam algum valor especial?
A visão evolutiva da moralidade
Nesse cenário, a moralidade poderia ser vista como um mecanismo evolutivo, criado para facilitar a convivência em sociedade, mas sem uma obrigatoriedade intrínseca. As regras que seguimos seriam mais como acordos temporários, úteis apenas enquanto servem aos nossos interesses. A ideia de dever moral, então, perderia sua força.
Michael Ruse, filósofo da ciência, argumenta que a moralidade humana é um produto da evolução, assim como nossas características físicas. Segundo ele, desenvolvemos uma consciência moral porque ela possui importância biológica para a sobrevivência da espécie. No entanto, ele vai além ao afirmar que, enquanto sistema racional e objetivo, a ética é ilusória. Para Ruse, a moralidade nada mais é do que uma ferramenta de sobrevivência e reprodução.
Richard Taylor, um proeminente especialista em ética, adiciona outra camada a essa discussão. Ele destaca o impacto do afastamento da ideia de um legislador divino. A sociedade moderna, em grande parte, rejeitou a crença em Deus, mas tentou manter os conceitos de certo e errado. Segundo Taylor, ao se distanciar da noção de uma autoridade divina, as pessoas acabaram por esvaziar o sentido dessas categorias morais
Conclusão
Em suma, vimos que a existência de Deus proporciona uma base firme e inabalável para a moralidade objetiva. Sem Deus, os valores e deveres morais tornam-se questionáveis, meras construções sociais ou adaptações biológicas, como sugerido por pensadores ateístas.
Se acreditamos que atos como o amor, a justiça e o autossacrifício são intrinsecamente bons, precisamos de uma fundação que transcenda a natureza humana mutável e limitada. A crença em Deus oferece exatamente isso: uma fonte transcendente e objetiva para a moralidade. Além disso, a fé em Deus nos oferece esperança e propósito moral, assegurando que nossas escolhas éticas têm um significado eterno e que serão julgadas por um Deus justo.