Os Dez Mandamentos foram abolidos ou ainda são válidos?

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Os Dez Mandamentos foram abolidos ou ainda são válidos

Introdução

Os Dez Mandamentos foram abolidos ou ainda são válidos para os cristãos nos dias de hoje? Para responder a essa pergunta, precisamos examinar as Escrituras com atenção. O debate sobre a lei de Deus é, em grande parte, centrado na distinção entre as diferentes leis mencionadas na Bíblia: a lei moral e a lei cerimonial.

Muitas pessoas confundem essas categorias e acreditam que todas as leis foram abolidas na cruz. Entretanto, quando examinamos mais profundamente o ensino bíblico, vemos que os Dez Mandamentos, sendo a lei moral de Deus, permanecem em vigor.

Ao longo deste tema, vamos explorar os fundamentos bíblicos e teológicos que demonstram que os Dez Mandamentos, como reflexo do caráter de Deus, são imutáveis e continuam a ser relevantes para a vida cristã.

Veremos também como as leis cerimoniais, que prefiguravam a obra de Cristo, cumpriram seu propósito e foram abolidas em Sua morte. Este artigo é uma defesa da contínua validade da lei moral e sua relação com a graça revelada no evangelho.

A Importância da Distinção entre a Lei Moral e a Lei Cerimonial

Um dos primeiros pontos que devemos esclarecer é a distinção bíblica entre a lei moral, exemplificada nos Dez Mandamentos, e a lei cerimonial, composta por rituais e regulamentos que governavam o culto e as práticas do antigo Israel.

Muitos cristãos acreditam que, com a vinda de Cristo, toda a lei foi abolida, mas essa ideia é simplista e incorreta. Se compreendermos que há diferentes categorias de leis, podemos então ver como a morte e ressurreição de Cristo afetam essas leis de formas distintas.

A lei cerimonial foi instituída como uma série de práticas que apontavam para o sacrifício vindouro de Cristo. Isso incluía as ofertas de sacrifícios no templo, as festas religiosas como a Páscoa e outros rituais que eram uma sombra das coisas que viriam (Colossenses 2:16-17). Quando Cristo morreu, Ele cumpriu essas leis, pois o propósito delas era prefigurá-lo. Portanto, não precisamos mais oferecer sacrifícios de animais, pois o sacrifício de Cristo foi completo e perfeito (Hebreus 10:12-14).

Contudo, os Dez Mandamentos não pertencem à categoria de leis cerimoniais. Eles são a expressão da vontade moral de Deus para toda a humanidade. A lei moral foi dada por Deus como uma expressão de Seu caráter e como o padrão de justiça para todos os tempos e culturas. Não era uma lei provisória, mas sim uma norma eterna. Deus não aboliria a Sua própria moralidade, pois isso significaria negar Seu caráter imutável. O que mudou, com a vinda de Cristo, foi a forma como os crentes se relacionam com a lei, não a própria lei moral.

A Lei Moral e sua Origem Divina

Os Dez Mandamentos estão registrados em Êxodo 20:1-17 e Deuteronômio 5:6-21, sendo entregues diretamente por Deus ao povo de Israel no Monte Sinai. Eles foram escritos pelo próprio dedo de Deus em tábuas de pedra (Êxodo 31:18), o que mostra sua importância singular. Esses mandamentos refletem os dois grandes mandamentos que Cristo destacou: amar a Deus acima de todas as coisas e amar o próximo como a nós mesmos (Mateus 22:37-40).

Os quatro primeiros mandamentos tratam de nosso relacionamento com Deus. Eles falam sobre a adoração exclusiva de Deus, a proibição de ídolos, o respeito ao Seu nome e a santificação do sábado. Estes mandamentos são fundamentados na soberania e santidade de Deus, e não mudam com o tempo ou as culturas. Eles nos mostram como devemos nos posicionar diante do Criador, e ignorá-los seria negligenciar o relacionamento fundamental entre Deus e a humanidade.

Os seis últimos mandamentos tratam de nosso relacionamento com o próximo. Eles falam sobre honrar nossos pais, a proibição de matar, adulterar, roubar, mentir e cobiçar. Estes mandamentos são universais e têm sido reconhecidos, de várias maneiras, como princípios morais em muitas culturas ao longo da história.

Mesmo sociedades seculares concordam que o assassinato, o roubo e o perjúrio são moralmente errados. Isso demonstra que a lei de Deus está escrita no coração dos homens (Romanos 2:14-15), mesmo daqueles que não possuem a revelação direta das Escrituras.

A Lei Cerimonial e seu Cumprimento em Cristo

Ao contrário da lei moral, a lei cerimonial tinha um propósito temporário. Ela foi dada como uma tipologia, ou seja, uma representação simbólica das coisas que Cristo realizaria em Sua obra redentora. O sistema de sacrifícios de animais, os sacerdotes, as festas anuais, e mesmo o santuário terrestre, eram todas sombras do que seria cumprido em Cristo. Como Paulo explica em Colossenses 2:14-17, essas práticas eram “sombras das coisas que haviam de vir”, mas o corpo, ou substância, é Cristo.

O livro de Hebreus explica com detalhes como Cristo é o cumprimento perfeito dessas sombras. O sacrifício de animais não podia remover os pecados (Hebreus 10:4), mas apontava para o único sacrifício que seria eficaz para a redenção da humanidade. Quando Cristo morreu na cruz, o véu do templo se rasgou (Mateus 27:51), significando o fim do sistema cerimonial que separava o povo de Deus de Sua presença. Agora, através de Cristo, temos acesso direto ao Pai (Efésios 2:18), sem a necessidade de um sacerdócio ou sacrifícios intermediários.

No entanto, é importante enfatizar que o cumprimento da lei cerimonial não implica a abolição da lei moral. Jesus declarou em Mateus 5:17-18: “Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da lei, até que tudo se cumpra.”

Aqui, Cristo está falando claramente da lei moral, que permanece em vigor até que tudo seja consumado na nova criação. Imagine agora se a lei moral, os Dez Mandamentos, tivesse realmente sido abolida. Isso significaria que matar, roubar e adulterar estariam permitidos. Isso faz sentido para você?

Jesus e a Reafirmação da Lei Moral no Novo Testamento

Cristo não apenas cumpriu a lei cerimonial, mas também confirmou e aprofundou a lei moral. No Sermão do Monte, em Mateus 5-7, Ele corrige os equívocos dos fariseus sobre a lei, mostrando que sua verdadeira aplicação vai além da mera observância externa. Os mandamentos não tratam apenas do comportamento, mas das intenções do coração.

Por exemplo, Jesus ensina que o sexto mandamento, “Não matarás” (Êxodo 20:13), não se refere apenas ao ato físico de homicídio, mas também à ira injusta e ao ódio que levam ao assassinato (Mateus 5:21-22). Da mesma forma, o sétimo mandamento, “Não adulterarás” (Êxodo 20:14), é ampliado por Jesus para incluir até mesmo o desejo impuro no coração (Mateus 5:27-28). Ao fazer isso, Ele eleva o padrão moral, mostrando que a verdadeira obediência à lei de Deus envolve pureza de coração e não apenas conformidade externa.

Além disso, em Mateus 19:16-22, na conversa com o jovem rico, Jesus reforça a validade dos Dez Mandamentos como o caminho para a vida eterna. Quando o jovem pergunta o que deve fazer para herdar a vida eterna, Jesus o direciona à observância dos mandamentos. Isso demonstra que, para Jesus, os mandamentos ainda são um guia válido e necessário para a vida do cristão. O que Jesus expõe nesse encontro é que a verdadeira obediência não é apenas formal, mas exige uma entrega total do coração a Deus.

Paulo e a Relação entre a Lei e a Graça

Paulo é muitas vezes mal interpretado quando se trata da lei. Alguns argumentam que ele ensinou que a lei foi abolida em favor da graça. No entanto, uma leitura cuidadosa de suas cartas revela que Paulo vê a lei moral como um padrão que continua em vigor, enquanto a lei cerimonial foi cumprida e abolida em Cristo.

Em Romanos 3:31, Paulo faz uma pergunta retórica: “Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei.” Ele está afirmando que a fé em Cristo não elimina a necessidade da lei, mas, ao contrário, a estabelece. A justificação vem pela fé, mas a santificação — o processo de se tornar mais parecido com Cristo — envolve viver em conformidade com a vontade de Deus, expressa em Sua lei moral.

Paulo também afirma que a lei é santa, justa e boa (Romanos 7:12), e que ela serve para revelar o pecado (Romanos 7:7). Sem a lei, não saberíamos o que é pecado. Portanto, a lei moral tem uma função contínua: ela não é um meio de salvação, mas um espelho que nos mostra nossa necessidade de um Salvador e um guia para a vida cristã. Nós não guardamos a lei para sermos salvos, mas porque já fomos salvos.

Conclusão

Portanto, podemos concluir que os Dez Mandamentos, como a lei moral de Deus, não foram abolidos. Eles permanecem como o padrão eterno de justiça, revelando o caráter de Deus e nos guiando na maneira correta de viver. Embora não sejamos salvos pela observância da lei, ela continua a ser uma parte essencial da vida cristã, mostrando-nos o que significa amar a Deus e ao próximo.

A lei cerimonial, por outro lado, foi cumprida na morte e ressurreição de Cristo, e não precisamos mais observar suas práticas simbólicas. Ao mantermos essa distinção clara, podemos honrar a obra redentora de Cristo e, ao mesmo tempo, viver uma vida que reflete o caráter justo e santo de Deus, conforme revelado em Seus mandamentos.

Que Deus o(a) abençoe!


Veja também:

A divindade de Cristo e a doutrina da Trindade

Bíblia On-line: Os 10 mandamentos

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Amós Bailiot

Sou um estudante de História na Universidade Estácio de Sá e um entusiasta em Teologia. Acredito que o conhecimento é valioso apenas quando compartilhado. É por isso que estou aqui, disposto a compartilhar minhas reflexões teológicas. Junte-se a mim nessa jornada!

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Amós Bailiot

Graduando em História pela Universidade Estácio de Sá e estudioso de Teologia, defende a premissa de que o conhecimento se torna verdadeiramente valioso quando compartilhado. Junte-se a mim nessa jornada!

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