A ressurreição de Jesus: 4 fatos que refutam o ceticismo

Faixa de seção
A ressurreição de Jesus
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Introdução

O apóstolo Paulo, assim como os demais autores do Novo Testamento, apresenta a ressurreição de Jesus Cristo como um acontecimento absolutamente singular, sem qualquer paralelo na história da humanidade. Trata-se de um evento central e indispensável à fé cristã. De fato, sem a ressurreição, o cristianismo perderia seu valor mais profundo e se tornaria desprovido de sentido. O próprio apóstolo Paulo expressa isso de forma contundente ao afirmar: “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé…” (1 Coríntios 15:14).

Entretanto, é comum encontrarmos questionamentos, não apenas sobre a veracidade da ressurreição, mas também sobre a identidade divina de Jesus. Em um cenário social marcado por um forte apelo ao relativismo e ao politicamente correto, torna-se cada vez mais difícil defender publicamente que Jesus de Nazaré, em sua forma humana, é a plena manifestação do Deus verdadeiro e Todo-Poderoso. Essa declaração, que durante séculos foi o centro da confissão cristã, hoje enfrenta resistências significativas.

Muitas pessoas, influenciadas pela pluralidade religiosa e cultural, passam a questionar se o Deus dos cristãos não seria apenas mais uma representação entre tantas outras divindades veneradas nas tradições do hinduísmo, budismo, judaísmo ou islamismo. Diante disso, os cristãos se deparam com o desafio de justificar por que creem que o Deus revelado em Jesus Cristo é o único verdadeiro.

Nesse contexto, o Novo Testamento oferece uma resposta clara e poderosa: a ressurreição de Jesus dentre os mortos. Conforme lemos em Atos dos Apóstolos, “Deus estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou para isso. E deu prova disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (Atos 17:31). A ressurreição não apenas manifesta o poder divino sobre a morte, como também autentica a identidade divina de Jesus e confirma a missão redentora que Ele voluntariamente assumiu.

Para os cristãos, a ressurreição de Cristo representa um marco histórico de imensurável importância, carregado de profundo significado teológico. Ela se apresenta como uma evidência concreta da existência de um Deus pessoal, que se importa com a humanidade e que atua na história em favor dos seres humanos. Reconhecendo a realidade desse Deus vivo, reconhecemos também que Ele é o Criador e Sustentador de todo o universo.

Além disso, a ressurreição revela, de maneira extraordinária, o amor de Deus, plenamente manifestado na pessoa de Jesus Cristo. Por meio desse evento, Jesus oferece a todos os povos e nações a promessa de vida eterna e a vitória definitiva sobre a morte. Porém, essa narrativa também levanta uma pergunta legítima e recorrente: como podemos ter certeza de que a ressurreição realmente aconteceu? Existem fundamentos sólidos que sustentam a autenticidade do relato do túmulo vazio?

Para responder a essas dúvidas, analisaremos quatro fatos históricos que confirmam o testemunho bíblico: a crucificação de Jesus pelos romanos, seu sepultamento em um túmulo talhado na rocha, sua ressurreição ao terceiro dia — no domingo de manhã — e as aparições do Cristo ressuscitado, atestadas por testemunhas oculares.

Nosso objetivo é demonstrar que há evidências robustas que justificam a crença cristã na ressurreição. Isso é essencial para que possamos dialogar com céticos e críticos com argumentos consistentes. Caso contrário, corremos o risco de que nossa fé seja tratada como uma simples crença mítica, ao lado de contos sobre duendes, fadas ou o Papai Noel. É importante lembrar que, por sua natureza única e transcendental, a ressurreição de Jesus não pode ser explicada de forma simplista ou reduzida a meras alegorias.

Contra fatos não há argumentos

O cristianismo é uma das religiões mais antigas do mundo e está profundamente entrelaçado com os acontecimentos históricos. Suas principais afirmações podem, em grande parte, ser examinadas sob a luz da investigação histórica. Antes de explorarmos os detalhes dos eventos em questão, proponho uma breve reflexão: imagine, por um instante, que o Novo Testamento seja apenas uma coletânea de textos do século I, escritos originalmente em grego, que chegaram até nós desprovidos de qualquer conotação sobrenatural ou conexão com o divino.

Dentro dessa perspectiva puramente histórica, ainda assim essa coleção de documentos teria imenso valor acadêmico. A única exceção seriam os trechos que mencionam milagres, especialmente a ressurreição de Jesus. Afinal, se partirmos da ideia de que Deus não existe, então também não haveria inspiração divina ou qualquer tipo de milagre, e Jesus seria apenas mais um homem que foi crucificado e morreu, sem maiores implicações espirituais ou eternas. Seria esse o desfecho lógico?

Contudo, o que pode causar surpresa para muitos é o fato de que a maioria dos estudiosos e críticos do Novo Testamento que se dedicam ao estudo acadêmico desse campo — mesmo aqueles que não possuem qualquer afinidade com a fé cristã — aceitam como verídicos diversos pontos centrais que sustentam a narrativa da ressurreição de Jesus.

É importante destacar que isso não se restringe a estudiosos com orientação evangélica ou conservadora. Na verdade, essa aceitação se estende a uma ampla gama de pesquisadores que atuam em universidades seculares e seminários independentes, sem qualquer compromisso com o cristianismo tradicional. De forma até surpreendente, muitos desses estudiosos passaram a reconhecer que há fundamentos históricos sólidos por trás da crença na ressurreição de Cristo.

Esses fundamentos, aceitos de modo quase unânime por essa comunidade acadêmica diversa, podem ser apresentados como fatos históricos que formam a base da argumentação em favor da ressurreição. São eles:

Primeiro Fato: Após a crucificação, Jesus foi sepultado em um túmulo por José de Arimatéia

Um dos pilares fundamentais da narrativa cristã da ressurreição é o sepultamento de Jesus em um túmulo específico, concedido por José de Arimatéia, membro do Sinédrio. Esse fato possui grande relevância histórica e teológica, sobretudo porque o conhecimento público da localização do túmulo, tanto por parte de judeus quanto de cristãos, inviabiliza qualquer alegação de que a ressurreição teria sido uma invenção deliberada dos discípulos. Se o corpo ainda estivesse presente no túmulo, qualquer tentativa de afirmar a ressurreição teria sido prontamente desmentida pelas autoridades ou por opositores da nova fé.

Pesquisadores do Novo Testamento concordam que o túmulo de Jesus era amplamente conhecido por judeus e cristãos, baseando-se em diversos indícios históricos consistentes. Entre esses, destacam-se:

  • A tradição cristã primitiva, expressa de forma clara na Primeira Carta de Paulo aos Coríntios (1 Coríntios 15:3-5), declara que Jesus foi sepultado. Esse trecho é amplamente reconhecido como uma das declarações mais antigas da fé cristã primitiva.
  • Fontes judaicas também fazem referência ao sepultamento, como o próprio Talmude, que, apesar de ser crítico ao cristianismo, reconhece que Jesus foi enterrado — o que confere mais credibilidade ao dado histórico, uma vez que parte de uma fonte externa e até hostil à fé cristã.
  • Paulo utiliza expressões técnicas rabínicas como “recebi” e “entreguei”, indicando que não estava apresentando uma opinião pessoal, mas sim transmitindo uma tradição anterior a ele. Especialistas em Novo Testamento afirmam que essa formulação tem características litúrgicas e não se alinha ao estilo literário típico de Paulo, o que reforça a ideia de que ele apenas reproduzia uma confissão cristã mais antiga.

Acredita-se que essa tradição tenha sido entregue a Paulo por volta do ano 36 d.C., durante sua estada em Jerusalém, quando se encontrou com Cefas (Pedro) e Tiago, figuras centrais entre os discípulos de Jesus. Este contato com testemunhas oculares diretas dos acontecimentos, ocorrido apenas cerca de cinco anos após a morte de Jesus, reforça a credibilidade do relato.

Além disso, o sepultamento de Jesus é um dos elementos mais antigos e confiáveis da tradição cristã registrada. Os relatos dos evangelhos sobre os últimos dias de Jesus — conhecidos como “narrativas da paixão” — são surpreendentemente lineares e contínuos, ao contrário de outras passagens que podem ser mais fragmentadas ou teologicamente elaboradas. Essa consistência sugere que os autores, especialmente Marcos, que escreveu o evangelho mais antigo segundo o consenso acadêmico, estavam baseando seus textos em fontes anteriores e bem estabelecidas.

Outro ponto de destaque é a figura de José de Arimatéia. Ele era um membro do conselho judaico, o que torna improvável que os primeiros cristãos, frequentemente perseguidos pelas autoridades religiosas judaicas, tivessem inventado tal personagem em um papel tão respeitável. Criar essa narrativa teria sido contraproducente, especialmente em um contexto de grande tensão entre os cristãos e os líderes religiosos da época. Além disso, a simplicidade do relato e a ausência de elementos lendários ou miraculosos sugerem que não se trata de uma história inventada com fins apologéticos.

Vale ainda ressaltar que não existem relatos alternativos ou concorrentes sobre o destino do corpo de Jesus. Caso o sepultamento por José de Arimatéia fosse fictício, seria razoável esperar que tivessem surgido versões alternativas ou lendas divergentes sobre o que teria acontecido com o corpo. No entanto, as fontes que temos à disposição são unânimes ao descrever um sepultamento digno, realizado por José.

Diante de todos esses elementos, a maioria dos estudiosos do Novo Testamento — inclusive muitos que não comungam da fé cristã — reconhece o sepultamento de Jesus como um fato histórico amplamente comprovado. O teólogo John A. T. Robinson, da Universidade de Cambridge, afirmou certa vez que o sepultamento de Jesus em um túmulo é “um dos fatos mais antigos e mais bem atestados sobre Jesus”.1

Esse consenso acadêmico é um forte indicativo da veracidade do evento. Ele também reforça o reconhecimento da existência histórica de Jesus e de sua crucificação sob o governo de Pôncio Pilatos, como relatado por várias fontes históricas, cristãs e não cristãs. Assim, o sepultamento realizado por José de Arimatéia não é apenas um detalhe narrativo, mas um elemento crucial para a compreensão da fé cristã e de sua base histórica sólida.

Segundo Fato: No domingo após a crucificação, o túmulo de Jesus foi encontrado vazio por um grupo de suas seguidoras

O segundo fato amplamente reconhecido entre os estudiosos do Novo Testamento é que, no terceiro dia após a crucificação, o túmulo onde Jesus havia sido sepultado foi encontrado vazio por um grupo de mulheres que o seguiam. Essa constatação tem implicações significativas e desafia qualquer hipótese de que a ressurreição teria sido uma invenção dos discípulos para atrair seguidores ou fortalecer uma seita nascente.

Diversas razões levaram estudiosos a concluir que a narrativa do túmulo vazio possui um alto grau de credibilidade histórica:

  • O relato do túmulo vazio está inserido na antiga fonte da paixão utilizada por Marcos, a qual também inclui a crucificação e o sepultamento de Jesus. Essa fonte apresenta uma estrutura coesa, o que indica que o relato do túmulo vazio não é uma adição posterior, mas uma parte integral e original da narrativa primitiva.
  • A tradição cristã mais antiga, mencionada por Paulo em 1 Coríntios 15:3-5, implica logicamente a existência de um túmulo vazio. Para um judeu do primeiro século, dizer que alguém “foi sepultado e ressuscitou” necessariamente envolvia a ideia de que o túmulo havia sido deixado vazio. Além disso, a expressão “ao terceiro dia” provavelmente deriva da visita das mulheres à sepultura nesse período, conforme a tradição judaica de contagem dos dias.
  • O relato da descoberta é notavelmente sóbrio e direto, sem sinais de embelezamento ou adição de elementos lendários. Basta compará-lo com textos apócrifos do século II, nos quais há descrições exageradas — como Jesus emergindo do túmulo com dimensões colossais ou acompanhado por uma cruz que fala. Essa diferença de tom reforça a autenticidade do relato evangélico.
  • A presença das mulheres como primeiras testemunhas da ressurreição é outro forte argumento a favor de sua veracidade. Em uma cultura onde o testemunho feminino era amplamente desvalorizado — como atestado pelo historiador Flávio Josefo —, seria improvável que uma história inventada colocasse mulheres como protagonistas de um evento tão central. A única explicação plausível é que os evangelhos relatam o que realmente aconteceu, mesmo que isso contrariasse normas sociais da época.
  • A reação inicial das autoridades judaicas também confirma o túmulo vazio. Em vez de simplesmente apresentar o corpo de Jesus ou negar a alegação dos discípulos, os líderes religiosos acusaram os seguidores de Jesus de terem roubado o corpo (Mateus 28:15). Essa reação só faz sentido se, de fato, o corpo não estava mais lá.
  • Por fim, se o objetivo dos discípulos fosse apenas criar uma doutrina atrativa, teriam escolhido uma narrativa mais aceitável culturalmente. Poderiam, por exemplo, sustentar que Jesus havia ressuscitado espiritualmente, sem qualquer ligação física com o túmulo. Isso seria mais palatável para as filosofias da época, como o estoicismo, o gnosticismo e até o judaísmo helenístico. No entanto, eles insistiram em uma ressurreição corporal, mesmo cientes de que isso lhes custaria perseguições e, em muitos casos, a vida.

Essa convicção, aliada à disposição dos discípulos em sofrer e morrer por aquilo que proclamavam, sugere que estavam sinceramente convencidos da realidade do que testemunharam. O estudioso Jacob Kremer afirmou que “a grande maioria dos exegetas acredita com firmeza na fidedignidade das declarações bíblicas acerca do túmulo vazio”2. Essa posição não se apoia em fé cega, mas em evidências sólidas e bem documentadas.

O professor Simon Gathercole, da Universidade de Cambridge, reforça essa conclusão ao afirmar que “a ressurreição não é apenas possível, mas também altamente provável à luz das evidências disponíveis”3. Trata-se, portanto, de um evento que, mesmo sob os critérios da investigação histórica, merece ser levado a sério.

Terceiro Fato: Em diversas ocasiões e contextos, diferentes pessoas e grupos relataram ter visto Jesus ressuscitado

Um dos aspectos mais amplamente aceitos por estudiosos do Novo Testamento é o testemunho de múltiplas aparições de Jesus após sua morte. Tais relatos são descritos como experiências visuais reais, nas quais indivíduos e grupos distintos afirmaram ter visto, ouvido e, em alguns casos, tocado em Jesus ressurreto. O consenso entre os estudiosos é que essas experiências ocorreram, ainda que haja diferentes interpretações sobre sua natureza.

As razões que sustentam essa ampla aceitação acadêmica são variadas e convincentes:

  • A lista de testemunhas mencionada por Paulo em 1 Coríntios 15:5-7 inclui figuras centrais como Pedro (Cefas), os Doze apóstolos, mais de 500 irmãos de uma só vez e Tiago, irmão de Jesus. Essa enumeração é considerada uma tradição antiga, e Paulo a apresenta como algo conhecido pelos seus leitores — muitos dos quais ainda podiam verificar diretamente a veracidade desses testemunhos com as próprias testemunhas.
  • Os evangelhos fornecem diversos relatos independentes de aparições de Jesus. Essa multiplicidade de fontes é um dos critérios mais fortes para se estabelecer a historicidade de um evento. Por exemplo, a aparição a Pedro é confirmada de forma independente por Lucas, enquanto a aparição aos Doze é registrada tanto por Lucas quanto por João. Também há registros independentes de aparições na Galileia em Marcos, Mateus e João, além de relatos de aparições a mulheres, especialmente Maria Madalena.
  • Certos detalhes dessas aparições carregam marcas claras de autenticidade. Um exemplo marcante é a conversão de Tiago, irmão de Jesus. Os evangelhos indicam que ele não acreditava em Jesus durante seu ministério terreno. No entanto, após uma aparição do Cristo ressurreto, Tiago não apenas se converteu, mas tornou-se uma figura central da igreja de Jerusalém, sendo posteriormente executado por sua fé, conforme o historiador judeu Flávio Josefo. É difícil imaginar uma explicação mais plausível para essa transformação a não ser uma experiência real e profundamente impactante.

Até mesmo o cético e influente estudioso alemão Gerd Lüdemann, ainda que rejeite a explicação sobrenatural, reconhece que algo extraordinário aconteceu. Em suas palavras: “Pode-se considerar como historicamente certo que Pedro e os discípulos passaram por experiências, após a morte de Jesus, nas quais Jesus lhes apareceu como o Cristo ressurreto”.4

Esses testemunhos não podem ser simplesmente descartados como ilusões coletivas ou enganos subjetivos. A diversidade dos contextos — aparições a indivíduos e a grupos, em lugares distintos, a pessoas próximas e até hostis à mensagem de Jesus — torna extremamente improvável que todos tenham sido vítimas de alucinações simultâneas e coordenadas. Além disso, a reação prática dessas testemunhas — enfrentando perseguição, cárcere e até a morte — sugere que estavam profundamente convencidas de que o que viram era real.

Diferente de meras experiências místicas ou visões subjetivas, essas aparições envolveram interações físicas e concretas, como Jesus partilhando refeições, falando e mostrando suas cicatrizes. Isso vai muito além de uma experiência espiritual interna e reforça o caráter tangível da ressurreição, conforme descrito nas Escrituras.

Dessa forma, o conjunto das aparições de Jesus ressurreto representa uma das mais fortes evidências de que algo extraordinário e real aconteceu. Esses relatos, múltiplos e independentes, associados à transformação radical dos envolvidos, sustentam de forma impressionante a plausibilidade histórica da ressurreição.

Quarto Fato: Os discípulos originais creram sinceramente que Jesus havia ressuscitado dos mortos, apesar de toda expectativa em contrário

O último fato amplamente reconhecido entre estudiosos sérios do Novo Testamento é talvez o mais surpreendente: os primeiros discípulos de Jesus, mesmo diante de todas as evidências culturais, teológicas e sociais que tornariam tal crença improvável, passaram a afirmar com convicção que Jesus havia ressuscitado fisicamente dos mortos — e estavam dispostos a morrer por essa crença.

Para compreender a magnitude desse fato, é necessário refletir sobre o contexto em que os discípulos se encontravam logo após a crucificação:

  • Jesus, seu Mestre e líder, havia sido executado da forma mais humilhante possível: por crucificação, uma pena reservada a criminosos e inimigos do Estado. Na mentalidade judaica, um Messias crucificado era uma contradição em termos. Esperava-se que o Messias fosse um libertador político e espiritual que restauraria o trono de Davi e expulsaria os opressores romanos. Um Messias morto, portanto, representava não apenas o fracasso do movimento, mas também a prova de que a liderança estava equivocada desde o início.
  • A teologia judaica tradicional enxergava a morte na cruz como sinal de maldição divina. Deuteronômio 21:23 afirma que “maldito é todo aquele que for pendurado no madeiro”. Portanto, longe de pensarem que Jesus havia vencido a morte, os discípulos tinham todas as razões para entender sua crucificação como um trágico fim de um falso profeta — alguém rejeitado por Deus, e não exaltado por Ele.
  • As crenças judaicas sobre ressurreição também tornam notável essa transformação. Para os judeus do primeiro século, a ressurreição era um evento futuro, coletivo, reservado para o fim dos tempos — quando todos os justos ressuscitariam para a glória. A ideia de que uma única pessoa pudesse ressuscitar no meio da história, e ainda mais, que isso significasse o início de uma nova criação, era completamente fora dos padrões da tradição religiosa da época.

Mesmo assim, os discípulos passaram a proclamar publicamente que Jesus havia ressuscitado corporalmente, e não em sentido simbólico ou espiritual. Essa fé se espalhou rapidamente, formando o núcleo de um movimento que transformaria a história do mundo. O mais impressionante é que muitos desses homens e mulheres estavam dispostos a morrer por essa verdade, e de fato morreram, mantendo firme sua confissão até o fim.

Luke Timothy Johnson, respeitado estudioso do Novo Testamento na Emory University, destacou: “É indispensável algum tipo de experiência poderosa e transformadora para produzir a espécie de movimento que foi o cristianismo primitivo”5. Essa experiência, segundo os próprios discípulos, foi o encontro com o Cristo ressuscitado.

N.T. Wright, um dos principais historiadores do cristianismo primitivo, resume com clareza: “Como historiador, não consigo explicar a ascensão do cristianismo primitivo a menos que Jesus tenha ressuscitado, deixando atrás de si um túmulo vazio”6. Para ele e muitos outros estudiosos, nenhuma hipótese alternativa é suficiente para justificar o surgimento tão rápido e vigoroso da fé cristã nos primeiros anos após a morte de Jesus.

Assim, mesmo diante de circunstâncias adversas, os discípulos abraçaram uma fé que contrariava sua cultura, teologia e experiência, e o fizeram com tamanha convicção que arriscaram — e perderam — suas vidas por ela. Esse fato, por si só, exige uma explicação séria, e a explicação que melhor se encaixa nos dados históricos é a de que eles, de fato, testemunharam algo real: a ressurreição do seu Mestre.

Conclusão

Após a análise criteriosa dos quatro fatos amplamente aceitos por estudiosos sérios do Novo Testamento e da história antiga, somos conduzidos a uma conclusão inevitável: a ressurreição de Jesus não pode ser ignorada ou descartada como simples fábula ou construção mítica. A força das evidências históricas sugere que algo extraordinário aconteceu em Jerusalém, no primeiro século da nossa era.

Resumindo os quatro fatos:

  1. Jesus foi sepultado em um túmulo por José de Arimatéia — Um membro do Sinédrio, cuja identidade seria facilmente contestada caso o relato fosse fictício. A unanimidade entre as fontes e a ausência de versões alternativas reforçam a veracidade desse episódio.
  2. O túmulo foi encontrado vazio no domingo seguinte à crucificação — O testemunho das mulheres, improvável de ter sido inventado naquele contexto cultural, e a reação das autoridades judaicas, que alegaram roubo do corpo em vez de apresentar um cadáver, são fortes indícios da ausência real do corpo.
  3. Diversos indivíduos e grupos afirmaram ter visto Jesus vivo após sua morte — As aparições foram múltiplas, independentes e registradas por diferentes fontes. A transformação de céticos em crentes fervorosos, como o caso de Tiago, é particularmente convincente.
  4. Os discípulos creram genuinamente na ressurreição, apesar de todas as expectativas contrárias — A ressurreição contrariava sua tradição religiosa, cultura e até sua experiência emocional. Ainda assim, essa fé emergiu com força e se espalhou, mesmo diante de perseguições violentas.

Diante desses pontos, cabe a pergunta: qual é a explicação mais plausível para esses acontecimentos? Muitos estudiosos permanecem agnósticos, preferindo suspender o julgamento. No entanto, os cristãos, à luz da totalidade das evidências, afirmam com convicção: Jesus ressuscitou dos mortos.

E essa afirmação muda tudo. Não se trata de um homem qualquer que venceu a morte, mas do próprio Jesus de Nazaré — o Deus encarnado, o Messias prometido, o Salvador do mundo. A ressurreição é a confirmação de Sua identidade divina, da veracidade de Seus ensinos e da vitória definitiva sobre o pecado e a morte.

A fé cristã, portanto, não está baseada em mitos ou lendas engenhosamente inventadas, como escreveu o apóstolo Pedro (2 Pedro 1:16), mas em eventos reais, sólidos e sustentados por testemunhos confiáveis. Essa fé traz esperança viva, propósito eterno e a promessa gloriosa da vida imortal.

Como afirma Paulo: “Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e juntamente com ele, aqueles que nele dormiram” (1 Tessalonicenses 4:14). A ressurreição de Cristo é a garantia de que a morte não tem a palavra final.

No fim, resta-nos apenas render-nos a esse Deus de amor, que morreu para nos salvar, e admirar o plano sublime da redenção. É uma verdade tão profunda que ultrapassa nossa compreensão, e tão grandiosa que os céus se espantam com o fato de que tantos ainda rejeitam tão grande salvação.

Que Deus o abençoe!


Referências Bibliográficas

1 John A. T. Robinson, The Human Face of God (Filadélfia: Westminster, 1973), p. 131.

2 Jacob Kremer, Die Osterevangelien—Geschichten um Geschichte (Stuttgart: Katholisches Bibelwerk, 1977), pp. 49-50.

3 Simon Gathercole, The Historical Jesus: Five Views (editora IVP Academic, 2009), p. 149.

4 Gerd Lüdemann, What Really Happened to Jesus?, trad. John Bowden (Louisville, Kent.: Westminster John Knox Press, 1995), p. 80.

5 Luke Timothy Johnson, The Real Jesus (São Francisco: Harper San Francisco, 1996), p. 136.

6 N. T. Wright, “The New Unimproved Jesus”, Christianity Today (13 de setembro de 1993), p. 26.

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Amós Bailiot

Sou um estudante de História na Universidade Estácio de Sá e um entusiasta em Teologia. Acredito que o conhecimento é valioso apenas quando compartilhado. É por isso que estou aqui, disposto a compartilhar minhas reflexões teológicas. Junte-se a mim nessa jornada!

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Amós Bailiot

Graduando em História pela Universidade Estácio de Sá e estudioso de Teologia, defende a premissa de que o conhecimento se torna verdadeiramente valioso quando compartilhado. Junte-se a mim nessa jornada!

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